Nei Duclós
Foi-se o dia de poemas, devolva as letras com teu cheiro.
Era esse mesmo vestido que te cobria no sonho, pano fino e
colorido que acabou sobre o piso.
Dizes ai por pura graça, um beijo molhado e passa.
Uma trova popular te arranca dessa janela, venha dançar
comigo com teu belo par de pernas.
Pensei que tinha encerrado, mas o circo seguiu firme. Ainda
havia o trapézio e o teu corpo sobre o abismo.
Joguei a rede curtida em plena jaula das feras, a mais feroz
era a bela que me olhava com suas garras.
Eu era o malabarista naquela lona tardia, jogava o beijo
para o alto que no teu peito caía.
Teu camarim tinha gente e em todos deste abraços, eu te
aguardava no trailer com meu nariz de palhaço.
Fugi do circo pensando em montar um negócio, vou vender
pastel de feira longe do teu saiote.
Guardo ainda o retrato em que, felizes, vivíamos, ele fica
em minha estante num edifício de vidros.
É a força do cotidiano me disse alguém pragmático, ninguém
paga um saltimbanco que apaixonado tropeça.
Agora chega, disseram, fechem a cela a chave. Se o deixarem
assim solto nada vai sobrar na Terra.
RETORNO – Imagem desta edição: Gina Lollobrigida.