19 de julho de 2012

CÓDIGO ABERTO


Nei Duclós

Amor, palavra exata, que sobra em cada dobra do teu gesto. Língua universal, código aberto .

Sabemos a porta, vamos entrar por ela. Ir para lá, onde um dia nos amamos. E despertavas poemas como quem canta.

Quem te sonha não dorme, acorde.

Manténs distância, mas saltas toda vez que ronda alguma gazela. Tem quem não negue, medrosa.

Todas as pombas se foram e ficaste tomando conta da paisagem. Vi então que a graça do voo eram teus cabelos, não as aves.

Desfilei na data festiva com garbo diante do teu perfil de celebridade. Aplaudiste levemente com um sorriso cúmplice de te pego mais tarde.

Um dia serei praça onde todos visitarão tua estátua.

Esse relaxo de gestos e saias sem cuidados, cabelos soltos a meio caminho do penteado e a indiferença graciosa dos teus braços acabam comigo antes do fim da tarde.

Sobras em tudo e não entendo porque, para mim, escasseias.

Agora que o amor passou ficamos como dois tontos a nos cumprimentar de longe. Como se não vazássemos até o mais completo vazio.

Não era para ser tudo isso. Mas já que foi, é pecado deixar que acabe.

Teus intervalos de vento me tiram oxigênio. Não respiro enquanto te ausentas.

Expulsamos o inverno com o sopro da poesia. Depois montamos nela, em direção à primavera.

Quando você permanece na penumbra, eu me esqueço. Quando surges, lamento o tempo perdido. Deixa eu marcar uma ponte

Inacessível, nenhum poema te toca, a não ser quando não estou olhando.

Você é. Encostada nessa penumbra, bela como nunca. Por que tão rara? Tem medo de um beijo que se desenha?


RETORNO – Imagem desta edição: Jean Seberg.