Nei Duclós
Amor, palavra exata, que sobra em cada dobra do teu gesto.
Língua universal, código aberto .
Sabemos a porta, vamos entrar por ela. Ir para lá, onde um
dia nos amamos. E despertavas poemas como quem canta.
Quem te sonha não dorme, acorde.
Manténs distância, mas saltas toda vez que ronda alguma
gazela. Tem quem não negue, medrosa.
Todas as pombas se foram e ficaste tomando conta da
paisagem. Vi então que a graça do voo eram teus cabelos, não as aves.
Desfilei na data festiva com garbo diante do teu perfil de
celebridade. Aplaudiste levemente com um sorriso cúmplice de te pego mais tarde.
Um dia serei praça onde todos visitarão tua estátua.
Esse relaxo de gestos e saias sem cuidados, cabelos soltos a
meio caminho do penteado e a indiferença graciosa dos teus braços acabam comigo
antes do fim da tarde.
Sobras em tudo e não entendo porque, para mim, escasseias.
Agora que o amor passou ficamos como dois tontos a nos
cumprimentar de longe. Como se não vazássemos até o mais completo vazio.
Não era para ser tudo isso. Mas já que foi, é pecado deixar
que acabe.
Teus intervalos de vento me tiram oxigênio. Não respiro
enquanto te ausentas.
Expulsamos o inverno com o sopro da poesia. Depois montamos
nela, em direção à primavera.
Quando você permanece na penumbra, eu me esqueço. Quando
surges, lamento o tempo perdido. Deixa eu marcar uma ponte
Inacessível, nenhum poema te toca, a não ser quando não
estou olhando.
Você é. Encostada nessa penumbra, bela como nunca. Por que
tão rara? Tem medo de um beijo que se desenha?
RETORNO – Imagem desta edição: Jean Seberg.