Nei Duclós
Só participe do que soma. Fuja do que fere. Escreva o que fica.
Finja ser planície, abismo. Assim, quando se aproximam, você convida para perder o chão com teu carinho.
O Outro sou eu mesmo quando me escondo.
Brisa é vento mulher.
Nossa especialidade é a despedida. Aprimoramos no amor perdido. Por
isso viramos amadores, para recuperar o improviso dos não especialistas.
Madrugou, ponte de alegria? Foi o sol que te puxou para perto. Ele está com frio.
Ninguém foge ao seu destino. A dúvida é saber qual é.
Inverno não é álibi para manter distância. Tire pelo menos o cachecol, friorenta. O resto negociamos.
Coração partido: o amor é eterno independente do alvo. Sempre dá para colar.
Inverno é quando o clima adoece.
Raiva é perda de tempo. Tenta reverter o passado, irreversível. Contamina as boas chances do futuro.
Escrevemos o melhor livro: nossa vida mantendo arduamente seu sentido.
Luta à luz do dia, trilha no escuro, pais e filhos, sobrevivência e
aventura. Lemos depois em voz alta para a companhia humana que nos
reinventa.
No chá das cinco, vale o suspiro que me dedicas, não a academia que toma conta do assunto.
O último reduto é a distância que inventamos de tudo o que machuca. É
como se faz na infância: guarda-se o sonho em frascos de perfumes.
Quando tudo o que vemos deixar de existir, permanecerá o tremor de
nossas mãos vibrando pelo cosmo frio e infinito. Será confundido com
poesia, uma arte antiga estudada com desconfiança.
RETORNO - Imagem desta edição: Ava Gardner.