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11 de setembro de 2009
MANCHETES ENTREGAM TUDO
O que diz esta manchete, da Folha desta sexta-feira? "Crise econômica passou, mas desemprego vai piorar, diz FMI". A manchete, escancarada impunemente no maior jornal do país, diz que as pessoas não fazem parte da economia. Se os meios de sobrevivência vão ficar ainda piores, isso significa fatalmente crise, não é mesmo? Por que então isso não é levado em conta pelos agentes econômicos? É que a economia é o butim acumulado e repartido entre os bandidos, entre os quais se sobressai o FMI. Eles cuidam da economia: política de juros, comércio internacional, ações, preços, investimentos, inflação, índices etc. Gente, pessoas, é outro departamento, que não lhes diz respeito. A não ser como capacidade de consumo, de gerar negócios e, quando a coisa fede, de suportar mais pressão.
Eles no fundo temem as pessoas, unidas no Irã, por exemplo, contra uma fraude eleitoral. Mas não largam do celular, da tela e, claro, do grude que mantém a satisfação dos seus países baixos. Porque eles fazem isso: 1. porque ficam impunes e são estimulados a serem assim; 2. porque não temos mais franco atiradores, capazes de emigalhar o crânio de um especulador com um rifle de alta precisão; 3. porque se olham no espelho e se acham fodões. Se jogassem alguma coisa pesada nas fuças dos caras e ligasse um fio na direção deles, gostaríamos de vê-los correndo em direção às janelas do décimo andar. Mas como são monstros inomináveis, continuam achando que a economia vai bem e o povo que se exploda.
Isso acontece desde a gestão de Margaret Tatcher, na Inglaterra e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, nos anos 80. Antes, a economia era uma das ciências humanas. Os economistas falavam em desenvolvimento em função das nações e suas populações. Quem escrevia sobre economia era um humanista. Mas aí chegou o Milton Friedman, o Roberto Campos, o Eugenio Gudin e os bravos rapazes de Chigago e transformaram a economia num instrumento das ditaduras. Quando o troço explodiu, fez água, alguns prepostos, alunos dos humanistas, adaptaram o discurso para o tal desenvolvimento social, mas é tudo mentira. Pois a economia maquiada de social não passa de um arremedo da lei do cão. Vejam FHC: sucateou o país, entregou a Vale do Rio Doce de mão beijada em troca de dois mandatos presidenciais e poses de HonOris Causa nas universidades do mundo, atrelou totalmente a moeda às políticas estrangeiras (não temos moeda, temos representações da nossa submissão) e, pronto, eis o grande.
Um dos trunfos da economia que joga as pessoas no lixo aos montes e ainda por cima coloca fogo nelas, como acontece no Iraque e no Afeganistão, é que você, eu, ninguém entende nada de economia. Só eles entendem. Essa reserva de mercado mental e física é o que alimenta um boneco perfumado como o Guido Mantega e os carnívoros que se sucedem no Banco Central. Eles é que entendem. A marola acabou, a indústria voltou a crescer, a crise passou. Se o contingente de pobres e desesperados rolam pelas ruas do país aos pedaços não importa. O crack é uma coisa espontânea, brota como cogumelo, nada tem a ver com o desespero das pessoas. Enquanto isso, enquadrados pela televisão, os tubarões são o retrato do Mal com pose de estadista.
Economia é uma coisa simples: ela existe para que as pessoas possam sobreviver e não o contrário. Se você implanta uma economia que enche as burras dos banqueiros de bufunfa, se espalha pelso quatro cantos o privilégio de helicóptero, as festinhas suntuosas, a ostentação pura e simples, a compra de moças para a passarela, se você em troca arrebenta com os ouvidos das pessoas com música da pior espécie, cacifa porcaria, estimula o delírio infantil em direção a uma pessoa vazia e agressiva como Xuxa, se você mente o tempo todo para poder ganhar as próximas eleições, então sua economia não é o que diz.
Ela é o que faz de todo mundo.
A economia, essa que manda no mundo, faz mal à saúde.
RETORNO - 1. Imagem desta edição: Crackolandia, tirei daqui. 2. Escrevi este texto antes de saber, via Jornal Nacional, que a população pobre do Brasil não permitiu que houvesse crise por aqui. Foi o que disse Lula aos berros num evento, sendo aplaudido pelos puxa-sacos de sempre. Só me pergunto quando o pobrerio combateu a crise. Se foi quando viu todas as suas compras em longas e dificeis prestações serem levados pelas águas de norte a sul do país; se foi quando viu seus filhos sendo soterrados pelo barro, suas casas caídas, as famílias sendo assassinados por balas perdidas ou achadas; se foi quando multidões se afundam nas drogas nas ruas, campos e praias; se foi antes ou depois de chorar em frente as câmaras dizendo que perdeu tudo; se foi vendo seus ônibus sendo incendiados, seus bairros depredados e tudo que lhes pertencem virarem papelão amassado. Só queria saber. Sabendo, poderei então comemorar a retomada da economia. Mientras tanto: poderosos bandoleiros, cagai pedra, ok? Vão ver se estou lá na esquina.
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