23 de setembro de 2009

COM FRONTEIRAS


Nei Duclós (*)

A indignação repetitiva revela a incapacidade ou a falta de preparo do raciocínio diante das complexidades reais. “Isto é um absurdo” ou “isto é uma vergonha” são falas distribuídas com fartura em território estéril. O comportamento político bizarro ou os desvios de recursos de qualquer natureza continuam impunes, enquanto o levantar ofendido e coletivo de queixos demonstra as amarras da denúncia vazia.

Os fatos estão escancarados diante da cidadania que clama por justiça. Quem está devendo é a produção de pensamento, escassa apesar da abundância dos canais e o número impressionante de protagonistas. As reações migram do engessamento ideológico para o consenso forjado. O vício bipolar de ver sempre as mesmas coisas da mesma forma leva para o esvaziamento. O ápice é a recorrente cara de espanto decidindo que chegamos, mais uma vez, ao fundo do poço.

O impasse vem do atrelamento carnal dos pensadores aos poderes de plantão. Onde estão os autores que ainda defendem a soberania como fator de sobrevivência física da população brasileira? O que temos há décadas é a exposição das raízes sinistras da nacionalidade, do destino manifesto para o fracasso, do triunfo da inferioridade. Todos esses expedientes servem a potenciais líderes que emergem com algum antídoto salvador.

Como no imaginário viramos terra arrasada, é fácil para os aventureiros acenarem com a redenção por meio de palavras mágicas. Foi assim com o desenvolvimentismo, mais tarde o Brasil Grande , depois os planos econômicos e enfim o professor de ética ou o emergente vindo das classes subalternas. São representações dessa dívida que o Brasil teria em relação à sua própria natureza social, vista endemicamente como algo a ser punido.

A base de um pensamento voltado para a grandeza da obra, que é a nação consolidada em vasto território, foi dinamitada.

Separatismo, interdependência, ditadura ou voto útil, entre outros venenos, são receitados no fosso gerado pela falta de um sentimento genuíno de pertença. Princípios duradouros, alimentados pela lógica e a justiça, poderiam substituir a atual febre da falsa correção do comportamento.

Do jeito que está, brasileiros de todas as classes acabam empurrando o conceito de Pátria só para os estrangeiros, que não são trouxas e fazem de sua formação e suas fronteiras a garantia perene da própria integridade.

RETORNO - 1.(*) Crônica publicada no caderno Variedades, do Diário Catarinense, no dia 22 de setembro de 2009. 2. Imagem desta edição: Caipira picando fumo, de Almeida Junior.

BATE O BUMBO: CECÍLIA NO FACEBOOK

Maria Novais republicou meu texto no Facebook sobre Cecília Meireles e escreveu a seguinte mensagem:

"Prezado Poeta, acabo de ler, emocionada, o artigo que escrevestes sobre a tão líquida Cecília, no Diário Catarinense. Nada havia lido antes de tão belo, poético e honesto sobre ela. Tomei a liberdade de divulgar o artigo na minha página do Facebook, onde aproveito para lhe adiantar minha enorme admiração pelo teu trabalho.Obrigada e parabéns."

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