8 de setembro de 2009

ALMOÇO DE NEGÓCIOS



Nei Duclós (*)

Atribuir aos outros as próprias preferências chama-se marketing. Por exemplo: quem suporta ler apenas duas ou três frases sobre qualquer assunto tenta provar que esse é o fôlego da maioria dos consumidores de notícias. Quando vemos manchetes maiores do que os textos, tentamos entender porque decidem isso nas cozinhas altamente especializadas da comunicação.

Uma das expressões mais enigmáticas que existe é almoço de negócios. Como alguém pode definir o comportamento de uma empresa sorvendo rocambole de brócolis com maracujá? Criado na mesa paterna em que era proibido falar antes da sobremesa, para que todos pudessem comer em paz, considero absurdo o expediente de misturar picanha com o debate sobre o preço ideal da mortadela para a próxima estação.

Há os ágapes coletivos, misturados a discursos, em que os convivas ficam com o talher suspenso no ar, enquanto o anfitrião ou convidado fala sobre os benefícios exalados da sua própria competência. O aplauso final é apenas o alívio para quem não consegue mascarar a ansiedade de finalmente traçar um prato de legumes exóticos ao bafo. Um dia, numa frondosa celebração de fim de ano, reclamei do arroz carreteiro cru servido com peito de perdiz esturricado. “Meu pai fazia melhor na beira do rio” disse, e ninguém acreditou que era a pura verdade, pois o chef em questão tinha, digamos, design.

No fundo, é a moda de dourar imaginariamente a pílula dos encontros com o consenso correto das tendências. Para ser chic, é necessário ser autêntico. E para obter lucro, é importante pensar pela maioria e achar que é ingenuidade levantar alguma lebre que escape desse círculo mortal de certezas. Quando o assunto me interessa ou me invoca, gosto de ler textos longos, mas quem cede a esse vício não entra nas estatísticas.

Proponho que, durante os grandes almoços de negócios, se distribuam cardápios que contenham, além da descrição do prato principal (polvo ao forno com batatas da Polinésia) algum texto literário para ser lido em silêncio enquanto rola o discurso. Prestar atenção no menu é tolerado em eventos importantes. Melhor do que sofrer o jejum provisório namorando o pãozinho com manteiga da entrada, que esfria miseravelmente ao som de palavras corporativas.

RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: obra de Magritte.

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