19 de outubro de 2005

SELETA DO VOTO SOBERANO



Votar Não no próximo domingo é uma questão de sobrevivência nacional. Nesta edição, coloco alguns trechos do que está sendo difundido na Internet. Um é o artigo do blog do jornalista gaúcho Diego Casagrande, de autoria Denis Rosenfeld. E outro é uma entrevista de Durval Antunes Nery, general-de-brigada da reserva do Exército militar, publicada na Tribuna da Imprensa e que denuncia a entrega da Amazônia. Muito longe das teorias de conspiração, ou do notório fazer o "jogo da direita" (slogan do voto de cabresto) precisamos tomar conhecimento do grande perigo que corremos com o atual governo.E longe também de passar cheque em branco para tudo o que está sendo dito a favor do Não, precisamos saber o que personalidades públicas importantes dizem sobre o referendo. Rosenfeld aborda de um jeito que me diz respeito, pois fui criado no meio de armas e ninguém jamais roubou nada nem se machucou (hoje não uso nada). E o general interessa pelo que os militares pensam. Vamos aos textos, dos quais tiro alguns parágrafos.

MATURIDADE GAÚCHA
por Denis Rosenfield, filósofo

"O maciço apoio dos gaúchos ao Vote Não à proibição da comercialização de armas de fogo e de munição, segundo pesquisa CEPA-UFRGS publicada pelo jornal Zero Hora em 17 de outubro, mostra uma maturidade da sociedade do Rio Grande do Sul, que se tornou pouco propícia a embarcar em mais uma fraude eleitoral. (...) Há, evidentemente, razões históricas para a postura dos gaúchos. Trata-se de um estado fronteiriço, em que a cultura das armas sempre foi um valor prezado. Valor prezado por pessoas acostumadas às lides guerreiras, valor prezado por pessoas acostumadas a se defenderem por si mesmas, valor prezado por pessoas que necessitavam e necessitam se defender contra invasões de propriedades, roubo e abigeato (n. da r.: roubo de gado). Uma tal cultura não poderia deixar de produzir um senso da responsabilidade individual, da liberdade pessoal, de decisão no que diz respeito às ações empreendidas por cada um.

Considerando esse marco cultural, há perguntas e questionamentos que não poderiam deixar de ser suscitados, frente a uma iniciativa que procura não apenas desarmar os cidadãos como proibir a compra de armas e munições. Caso o voto do sim passasse, quem defenderia as propriedades contra as invasões do MST, que continua a agir impunemente, utilizando-se inclusive de armas? Quem poderia conter o abigeato senão os próprios proprietários fazendo uso de armas e utilizando-se dos tiros de advertência? Quem defenderá uma propriedade rural, isolada, quando ladrões procurarão nela entrar?

(...) Se o Estado, incapaz de preencher as suas funções, se arvora ainda em agente que procura proibir a venda de armas e munições, como se soubesse o que é o bem de todos, ele termina por destituir o cidadão da sua capacidade de decidir por si mesmo. Os gaúchos não estão deixando se enganar. Eles estão votando pelo não!"

PELAS ARMAS, AMAZÔNIA E PETRÓLEO
Rodrigo Otávio
(trechos da entrevista publicada na Tribuna da Imprensa)

"Durval Antunes Nery, general-de-brigada da reserva do Exército e candidato à presidência da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (Adesg), tem mais de 30 mil horas vividas na Amazônia e em viagens por todo o Brasil. É com esta experiência que conclama a população, principalmente os mais jovens, a defender a soberania nacional. O ex-páraquedista vê neste outubro uma ótima oportunidade para a população exercer essa defesa da maneira mais simples e democrática possível. Seja no referendo que decidirá sobre a proibição da venda de armas de fogo, seja na abordagem a parlamentares e autoridades pedindo para que impeçam mais um leilão de reservas petrolíferas. Para o general Nery, esses dois casos se completam e são exemplo de como o País vem entregando suas riquezas de forma silenciosa. Se o comércio de armas for proibido, a população civil da selva amazônica desfalcará os planos do Exército de uma ampla defesa territorial. Com a venda das reservas de petróleo e a decorrente opção dos novos donos de negociarem ou não com o Brasil, os reflexos disto podem vir no simples ato de encher o tanque do carro.

P - Como a proibição da venda de armas no Brasil afeta a Amazônia?
R - O povo brasileiro vai participar desse referendo para saber se concorda ou não com uma decisão já tomada. Isso tem reflexo sobre a Amazônia. Lá, temos uma população miscigenada, com a maior incidência do índio. Estão lá numa distância muito grande do poder, principalmente de Brasília. Às vezes, estão há dias de barco, de canoa, do município, da cidade, do primeiro médico, que geralmente é de uma unidade militar. Têm o direito de defesa, um direito constitucional. E se forem agredidos? Que providência têm que tomar? Essa lei de desarmamento está proibindo a comercialização da munição e da arma. Quer dizer: as elites brasileiras estarão protegidas. Porque os políticos, as autoridades, têm dinheiro para pagar segurança e carros blindados. E o povo? Não tem direito a nada. Se o Estado não pode oferecer segurança ao cidadão, é claro que ele sabe que tem que depender de sua auto-defesa. Lá no meio da selva, o caboclo com a família vê a onça rondando a casa, vai chamar autoridade para se defender? Quanto tempo vai levar? Tem que ter a espingarda em casa para defender a família.

P - O senhor então é contra a proibição de venda de armas de fogo e munição?
R - Contra, não há dúvida. Porque afeta a soberania. No caso da Amazônia: o Exército está treinando há 10 anos a "estratégia da resistência". Essa estratégia diz: "Defender a Amazônia contra a invasão de um Exército melhor equipado e superior em efetivo". Implica em utilizar armas curtas, como revólver, pistola, fuzil e metralhadora, e em ter a população armada para a defesa do território. Quer dizer: vamos ter que contar, na defesa da Amazônia, com a população existente. Esses homens têm que estar armados. É isso que representa esse referendo. Se o brasileiro votar "sim", vai entregar a Amazônia. Isto é um crime contra a soberania!"

RETORNO - Daqui a pouco, voltamos às crônicas, à cultura, aos poemas. O referendo está tomando espaço demais.

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