16 de outubro de 2005

O FIM DO SILÊNCIO



Um dos muitos crimes da ditadura civil, regime criado a partir do descarte dos militares e a consolidação dos principais itens do regime autoritário anterior (1964-85) foi permitir a campanha sistemática contra as Forças Armadas. Quem estuda História do Brasil, sabe: não se volta as costas para os militares. Não se governa à revelia da farda. Não se faz uma democracia sem que todas as instituições estejam presentes e ativas no debate político, e isso inclui, claro, as Forças Armadas.

O que se viu foi a abordagem obscurantista, colocando toda a culpa da ditadura nos militares, o que é de uma injustiça sem fim, pois fomos governados também por civis (que foram responsáveis diretos pelo golpe de 64), muitos de direita ou extrema direita. Governados na economia, nas relações internacionais, nos projetos importantes. Isso não elimina a participação militar, mas é bom lembrar que toda comunidade não pode ser vista só por um lado, já que em qualquer grupo humano existe diversidade e contradições. Esse é um tema delicado, pois a união dentro da caserna é um feito histórico assumido com orgulho. Mas é natural que existam divisões e pessoas que pensam diferente dentro dos quartéis.

Agora temos uma crise descomunal, fruto de uma irresponsabilidade política tremenda, convivendo com a falta de consideração com o papel dos militares. O fato de cumprirem com suas obrigações constitucionais não significa calar-se. Os militares brasileiros são homens de palavra, pois fazem exatamente o que disseram, ao não interferirem no processo político depois que dele se retiraram. Por isso, o manifesto lançado ontem é de extrema importância. Os militares gaúchos se posicionam contra a gestão da crise e a favor do Não no referendo, mas o texto é muito mais do que isso: é a palavra que vem de uma instituição que está no topo das preferências da população. Como se diz hoje a torto e a direito: prestem atenção (o texto foi tirado do site: http://www.diegocasagrande.com.br).


MANIFESTO DOS MILITARES GAÚCHOS

"A Federação Estadual da Família Militar do Rio Grande do Sul - FAMIL//RS, entidade que congrega, em nosso Estado, militares (ativa, reserva e reformados) da Marinha, Exército, Aeronáutica, Brigada Militar, ex-combatentes e pensionistas das diferentes Forças, não pode mais silenciar diante da crise moral que assola o País. O momento político que vivemos é deveras preocupante. Diariamente tomamos conhecimento de novas atividades desonestas praticadas pelo interminável préstito de corruptos que apareceu logo após o levantamento de uma miserável propina embolsada com tremenda desfaçatez e assistida por todos telespectadores brasileiros. Graças à imprensa, o Brasil todo tem acompanhado estarrecido os crimes praticados contra o erário. As somas apresentadas são enormes e se não fossem desviadas para atender interesses pessoais poderiam facilmente resolver inúmeros problemas nacionais.

Com a criação das CPMI e a divulgação de suas atividades passamos a achar que, desta vez, o Brasil finalmente seria "passado a limpo", entretanto, esta sensação de pureza, de honestidade, de recuperação, foi arrefecendo, particularmente depois que os parlamentares envolvidos com a corrupção foram considerados como errados e não criminosos.

Recentemente, parte do Parlamento se rendeu a concessões e atendeu às pretensões governamentais O patrimônio nacional está sendo dilapidado. A Amazônia está cada vez mais exposta à cobiça internacional. Temos feito doações e concessões magnânimas sem ter cacife para tal e em detrimento da solução de nossos problemas intestinos. Nossas Forças Armadas foram totalmente esquecidas. Seu material está virando sucata e o pessoal, seu maior patrimônio, sente-se coagido com movimentos e procedimentos que parecem buscar desestimulá-lo. Além disso está sendo desprezado, iludido e covardemente achincalhado. Quem vai defender nosso vasto e ambicionado território? Enfim, a situação é alarmante, particularmente se considerarmos a verdadeira abulia que tomou conta da nação que tinha esperança de melhores condições de vida, protegida por uma aura de honestidade e respeitabilidade que lhe fora "velhacamente" oferecida.

A FAMIL/RS, está atenta ao que ocorre no cenário nacional e concita seu público a mudar e consertar pelo voto as distorções e aberrações atuais. Vamos começar agora, no próximo dia 23, impedindo que tirem mais um direito do cidadão de bem brasileiro. Não há, por parte da FAMIL/RS quaisquer vinculações Partidárias e a nossa Fé, a nossa Dedicação, o nosso Compromisso é com o BRASIL.

Edu Campelo de Castro Lucas Cel R/1 - Cav.
Presidente da FAMIL/RS."

RETORNO - Urariano Mota reiventa a reportagem cultural, misturando crítica, informação, humor e crônica em vários textos, notadamente o que está no ar no La Insignia, As caras da Coluna Social. Um soco contra a desfaçatez, a indiferença e o deboche da superconcentração de renda no país sem soberania.

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