15 de outubro de 2005

CARNE PARA OS BRASILEIROS




Enquanto as bochechas estrangeiras ficam coradas com a carne brasileira, aqui temos uma população desnutrida, sem acesso à carne de primeira que custa a partir de sete reais o quilo, alcançando 15 ou 20 reais se for picanha ou filé mignon. Com a crise da aftosa, provocada, ao que parece, pelo contrabando de carne com o Paraguai, a carne esnobada pelos outros países vai ser despejada no mercado interno. Os preços? Talvez continuem na mesma, pois precisamos subsidiar políticas publicas voltadas para povos adventícios. É hora de reler os clássicos. Celso Furtado ou Joseph Love (autor de "O regionalismo gaúcho e as origens da revolução de trinta") explicam como essa dinâmica, mercado interno x mercado externo, pautou a economia e a política brasileira no século passado. Venceu a opção exportadora, que construiu ferrovias e estradas para o escoamento, e acabou entregando a soberania. No Google, há imenso conteúdo sobre esse assunto, com os grandes autores sendo analisados por professores eminentes. O que impressiona são os números revelados pela atual crise: faturamos bilhões exportando proteína. Temos de sobra, mas o que o povo come é carboidrato. Subsídios atingem lavouras de frutas, que são empacotadas para o Exterior. Que país é este que volta as costas para o seu povo? Como podemos ser celeiro do mundo se estamos favelizados? E o pior é que todos acham normal. Mas essa crítica é considerada retrocesso. Precisamos avançar, rumo à explosão social.

SAGARANA - Está no ar a edição especial do quinto aniversário da mais importante e melhor revista cultural da Internet, a Sagarana, editada pelo meu amigo Julio César Monteiro Martins, escritor de primeira água, que conquistou seu espaço na Itália, onde é festejado autor e importante professor de narrativa. Damos a palavra a Julio: "Caros amigos: é com satisfação que anunciamos a presença on-line, a partir de hoje, do n° 21 da revista Sagarana (em língua italiana). Este é o número especial do 5° aniversário da revista, e para comemorá-lo realizamos muitas inovações gráficas que fazem a revista Sagarana ainda mais bonita, com maior legibilidade e abertura mais rápida das suas páginas. Neste mesmo endereço é possível ler os textos atualizados da seção Il Direttore, con o conto inédito Pomeriggio a casa, e na seção Scuola / Scrittori migranti as atas do 5° Seminário italiano dos escritores da migração. Esperamos que os ensaios, os contos, as poesias, e os trechos de romances selezionados possam oferecer-lhes muitas horas de agradável leitura". Julio é um autor que nos faz falta e que a Italia, com sua sabedoria, soube receber como um dos seus grandes escritores. Ele agora publica diretamente no italiano, depois de tormentosa vida literária no Brasil, quando enfrentou as feras e matou um leão por dia. Julio precisa ser lido não apenas como escritor, mas como editor e sua Sagarana deve estar entre os favoritos de todos. Fui seu primeiro prefaciador, quando estreou com seu magnífico livro de contos, Torpalium. Hoje ele é responsável por enorme bibliografia, toda uma vida dedicada à arte maior que é a literatura.

JORNAL DE POESIA - O poeta Soares Feitosa (esses brasileiros maravilhosos do Nordeste, e eu que não conheço o Nordeste!) coloca três poemas meus, novos, no seu imprescindível Jornal de Poesia, além de começar a publicar minha pequena, mas significativa fortuna crítica. No topo dos destaques do JP, Mario Chamie apresenta No Mar, Veremos, meu livro lançado em 2001 pela Editora Globo, que meses atrás me avisou que ia repassar o encalhe pelo melhor preço da praça. O livro não mereceu sequer uma nota na grande imprensa, com exceção da Istoé. É assim que vivemos, neste país exportador. Mas não me importo tanto. Um dos poemas novos, que os leitores do DF já conhecem, O rio não morre, foi enviado para o genial Zé Gomes, que já musicou dois poemas meus, Minuano ( de No meio da rua) e No mar, veremos, que na sua melodia e voz se transformou num épico. Em Minuano digo: O vento é uma pedra polar/ que põe o campo de cabelo branco/ e acende meu corpo tropical/ O pampa não sonha quando balança/ ao som do minuano no varal/ mas meu coração se lança contra o tempo mau/ Armo as velas neste vendaval.

RETORNO - Meu poema Lição de travessia, publicado no meu livro de estréia Outubro, traduzido este ano pela poeta Flavia Rocha com o título de Crossing lesson e publicado na edição número 12 de revista novaiorquina Rattapallax, foi considerado um dos favoritos de 2005 pelo poeta e crítico americano Jordan Davis. Jornalista cuiltural da pesada e blogueiro, Davis trabalha pela inclusão literária. Publicou antologias como "Free Radicals: American Poets Before Their First Books" e participou da "Six American Poets: A Danish Anthology". O livro Outubro jamais teve uma segunda edição.

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