14 de outubro de 2005

O CAOS ANTES E DEPOIS DA FESTA

A situação atual do Brasil é um monstro que não se alimenta com biscoito recheado. Não adianta colocar no colo a menina que teve sua cadeira de rodas quebrada pela barbárie e prometer uma camiseta do Ronaldo de presente. Não adianta fazer clipezinho com musiquinha sobre nossa classificação para a Copa. Não adianta passar uma borracha sobre o caos no treino da seleção em Belém. Um dia depois da festa contra a Venezuela, a Vila Belmiro explodiu num Corinthians e Santos. Não vi o jogo, nem a transmissão, só vi algumas cenas do noticiário. É sempre a mesma coisa. Os responsáveis tiram da reta enquanto o povo se engalfinha. Os torcedores que se comportam como malfeitores são fruto das políticas públicas da ditadura civil, que rouba tudo e deixa o povo se locupletar.

LUTA - Hoje, torcer para um time é o último reduto (e sua distorção) do legítimo espírito guerreiro, o que consegue vitórias com lutas. Já que há só subempregos (trocentos trilhões de carteiras asssinadas com merrecas), e ficou claro que todas as facções políticas desviam dinheiro do Tesouro Nacional, e que a concentração de renda está cada vez mais explícita, então não há mais arena de luta, tudo virou um caos. Os times que se diferenciavam em camisetas e torcidas agora são todos iguais, estão na vala comum do desespero, à mercê de árbitros vendidos, máfias virtuais e reais, cartolas corruptos. Os torcedores vêem nos estádios as sobras dos craques nacionais, já que todos os que sabem alguma coisa são imediatamente exportados. Quem é a bola? perguntava aquela outsider nas crônicas de Nelson Rodrigues. Boa pergunta. Não há mais futebol. Para quê juntar gente num gramado e trazer milhares de pessoas para assistir?

FOGO! - O mundo cansou de nossa proteína. Não querem mais nossa carne, nosso frango, nossos porcos. Daqui a pouco vão cagar em cima da soja transgênica que estamos plantando no Pantanal. Emporcalhamos a pecuária com contrabando paraguaio, introduzimos bactérias nos genes das plantações para que elas não morram, mesmo que acabem matando. A ditadura civil se acha eterna. Tacou fogo na mata, entregou o patrimônio, encheu a roupa de dólares, mandou matar e se garante. Está sempre pronta para outra. Temos pecados de origem. Não soubemos aproveitar o momento histórico. Agora babamos com a educação em outros países e esquecemos o quanto fomos bons nisso. Lembro que o lugar das arquibancadas mais mal afamada, onde só existiam pessoas barra pesada, onde havia grande concentração dos mais pobres e agressivos, era chamada antigamente de Coréia. Era o exemplo que tínhamos do caos, do país que saiu de uma guerra e de um milhão de mortos. Hoje a Coréia tem 80% da população com diploma universitário (ou em vias de conseguir um). Apostaram na educação básica ampla e gratuita. Hoje são meio fascistas na educação. O Brasil teria um outro caminho, mas ficou naquilo: nichos de excelência rodeados por um mar de mediocridade.

ESPANHA - Em carta para Urariano Mota, Jesús Gómez explica a situação educacional da Espanha, recentemente incensada por matéria da Globo. Pinço algumas frases do editor que todos admiramos, e que adverte que a história não é bem assim. Nem a educação é fruto do franquismo (segundo Jesús, o que existe de bom faz parte de uma linhagem histórica mais antiga, especialmente à fase republicana do país, derrotada pela guerra civil de 1936-39), nem a Espanha merece ser encarada como modelo: " Tenemos uno de los índices más bajos de profesores por habitante, al igual que sucede con los médicos y con cualquier otra cosa que tenga que ver con el Estado social y de derecho» que teóricamente deberíamos ser. Como el Estado no tiene medios suficientes, como el sistema impositivo es demasiado bajo y además recae fundamentalmente en los trabajadores y no en las empresas, no puede financiar suficientemente la salud, la educación, etc..." Mais adiante, Jésus explica o grande número de universitários: " Tenemos uno de los índices más altos de universitarios, pero únicamente porque el Estado siempre ha estado interesado en mantener aparcado al mayor número posible de jóvenes. ¿Por qué? Porque los índices de desempleo españoles son los mayores de Europa occidental con gran diferencia. Y cuesta menos -y desde luego es menos peligroso socialmente- tener a un millón de jóvenes como estudiantes a tenerlos en la calle, sin trabajo, o con trabajos tan mal pagados que no sirven para nada. Una de las consecuencias de eso es que, naturalmente, la universidad española es desastrosa" . Aqui, Jesús, temos as universidades das ruas, a lei da selva.

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