A lavada do voto Não no referendo é a manifestação livre do Brasil soberano, essa criatura histórica gerada pelo povo em armas por séculos e gerações. Não brinquem de plebiscito, o Brasil soberano sempre se manifestará. Foi assim nas consultas sobre presidencialismo e agora, neste referendo que deixa os apresentadores do Fantástico com cara de sabão. O programete dominical começou com longuíssima encheção de lingüiça de esportes radicais (que são o desprezo pela paisagem) exatamente porque achavam que estariam ocupados mentindo sobre armamentos e celebrando a vitória do Sim. O tiro saiu pela culatra. A vitória esmagadora desmascarou a sucessão de paga-paus globais, que compareceram em massa para atender a voz do patronato, interessada em expulsar a Taurus do Brasil (pois isso foi no fundo o que rolou) e implantar da austríaca Glock no nosso país (indústria de armas parceira da Globo na segurança privada). Um escândalo sem limites que tentou usar o voto para consolidar a safardagem que foi a campanha do desarmamento em que as pessoas, de boa fé, depositaram suas armas em troca de merrecas, para que muitas delas fossem depois, como saiu em denúncias na imprensa, desviadas (só as de boa qualidade) de volta para o crime.
BALA! - Não foi graças ao marketing, pois não existe mais nada inútil do que a publicidade safada que nos toma todo o tempo livre com asneiras. Não foi só para derrotar Lula, esse ser perigoso que encarnou a ditadura civil com seu séquito de horrores. Não foi porque temos povinho que não sabe votar, como dirão os pseudo corretos. Foi porque temos uma nação aqui, caralho, temos uma civilização, temos um território inviolável, temos fronteiras resguardadas por forças armadas e população, temos um país para viver e lutar. Não nos obriguem a depositar as armas para continuarem o saque sem fim e a violência. Não permitiremos, nós, o povo. É incrível como não acreditam na existência desse ser misterioso, o brasileiro. Como acham que esta terra é feita de alemães, italianos, japoneses ou gringos! Como acham que o que nos define é a mestiçagem! Não é não. Não somos cavalos para ter raça, temos meta-raça, como disse Gilberto Freyre, somos seres culturais e políticos com identidade nos gestos, na fala, no imaginário. É assim desde o início da História do Brasil. Somos identificados pelo sentimento de pertencer a um país. Isso é usado para patriotadas (que levam à ditadura) ou por mal intencionados disfarçados de revolucionários. Apátridas, entreguistas, posam suas fisionomias cool para dizerem o quanto são de Nova Iórrrrqui. Pois vão para lá, bushear. E corram, porque lá vem bala!
FORA! - Saiam de frente da câmaras artistas vendidos, que expressam convicções homogêneas, ditadas pelos interesses dos patrões da cultura. Nos deixem em paz, publicitários criminosos com suas campanhas mentirosas. Fora, políticos ladrões que levaram nas malas cheias de dinheiro as esperanças do povo e a desmoralização das lutas populares. Adeus direita, que por tantos séculos sugou o país de suas principais forças. Adeus, pseudo esquerda que tenta se reaprumar depois da grande cagada federal que é este governo. Chega, credores internacionais com suas cobiças e deboches. Sumam, malfeitores de todas as espécies, que roubam, estupram e matam. Queremos nos ver livre de vocês. Ou vocês desistem ou nós vamos aí pegar vocês. Agora já sabem. Em cada casa pode ter uma arma. Aqui ó, para vocês, como diria o Pasquim na época do Tarso de Castro.
GANHAMOS, PAI - Obrigado, pai, por ter me ensinado a atirar quando eu tinha apenas nove anos de idade. Não aprendi direito, mas isso não importa. Me aproximaste das armas porque eras um guerreiro que lutou o bom combate e sabias o quanto era valiosa aquela lição. Foste à luta para mudar o Brasil naquelas revoluções que os historiadores não sabem contar como foi ou o que significam. Obrigado por ter me dado de presente de aniversário meus dois revólveres de brinquedo, cheio de balas de plástico, que saltavam longe a cada tiro. Aprendi a me defender, a não deixar que se aproximem com más intenções. Ganhamos hoje, pai. O povo votou pelo Brasil soberano. Sei que ainda estás palmilhando aquelas calçadas largas, com teu terno de linho branco, teu cabelo puxado para trás, teu sapato branco e marrom no passo célebre de dez para as duas, carregando no bolso teu revólver trinta e dois. Todos te respeitavam, pai, e jamais puxaste uma arma em tempos de paz. Andavas armado porque era teu dever e teu direito. Sabiam que contigo ninguém se metia. Sinto falta de ti, pai. Ainda preciso aprender, a ser como tu, homem de fronteira, honrado guardião do país que amaste semeando vidas e filhos como um pastor seguro e um pescador de mão cheia.
RETORNO - 1. A vitória esmagadora do Não foi prevista aqui no Diário da Fonte no dia 11 de outubro, quase duas semanas antes da votação: "Ora, Chico Buarque, Maitê Proença et caterva: vão plantar batatas na estufa do autoritarismo. E preparem-se, porque o Não vai ganhar. Preparem-se para um resultado acachapante, idêntico ao de 1950, quando Getúlio Vargas, contra todos os prognósticos, deu uma lavada em todo mundo. Não brinquem com o povo do Brasil soberano, o mesmo que derrotou em dois plebiscitos, o parlamentarismo, pois sabe o quanto o Parlamento pode significar ditadura em nosso país e quanto um só presidente pode mudar tudo, para melhor. Arrumem bem suas caras lambidas e depois da derrota não me venham com a conversa de que este povinho não sabe votar. O povo vai votar em massa no Não. Vai todo mundo votar 1, Não ao desarmamento e os artistas de plástico vão ficar chupando cana". 2. E antes ainda, quando o Sim liderava as pesquisas, coloquei um comentário no Comunique-se dizendo que o Não ia ganhar.3. Cicero Galeno Lopes me alerta sobre a Carta a Fernanda Montenegro, escrita por um criador de ovelhas do Rio Grande do Sul. Vale a pena ler.
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