25 de maio de 2013

DISFARCE DE RUÍNAS



Nei Duclós

Tudo o que vai morrer tem liberdade. Só os deuses são escravos de um Olimpo conservado em vinagre.

Era mais rico que o rei. Casou a filha com o herdeiro. Tornou-se dono do império. Quando morreu, os corvos o levaram.

Da janela viu o quebranto. Mulher de um outro tempo. Emitia visões para uma platéia manca. Quis entrar, mas um leão estava na porta.

O tempo é arquiteto de ruínas. Seu reino é a demolição de planos. Deixa como está, então, teimoso Saturno.

Tomei canto do presente. Estava embrulhado com cipó da mata. Guardava uma planta morta, seca mas intacta. Era para ser exposta no teto do templo.

Não quis que segurassem a bagagem. Eu mesmo pus no lombo do cavalo. E subi até a gruta, onde o mistério me aguardava.

Me criei na mansarda. Ela ainda existe, indiferente à avenida que se formou ao largo. Lá não penetram os apitos e um espírito desmonta a arma.

Era mulher pálida. Cabelos negros soltos no quarto. Deslizava até as cortinas e espiava o bosque próximo. Queria saber da Lua, amasiada ao lobo.

Vieram buscá-la na masmorra.O pai rico a entregara ao príncipe torpe. Início de novo Calvário.Casamento por interesse no reino da noite alta

Fui expulso com minhas histórias que imaginava secretas. Duendes leram no meu sono e levaram ao Ouvidor. Soldados me jogaram no fosso

A rainha roxa me resgatou. Fui adotado na Corte. Escrevo cartas fictícias de inimigos absolutos. Invento guerras para que soldados sofram.

Dilapido o trono para construir um palácio de cristal sem adornos. Lá faço misturas de luz de um novo universo.

Desapareci da minha história quando pus o ponto final impregnado de grossos perfumes. Disfarço com imagens coloridas.