Nei Duclós
Tudo o que vai morrer tem liberdade. Só os deuses são
escravos de um Olimpo conservado em vinagre.
Era mais rico que o rei. Casou a filha com o herdeiro.
Tornou-se dono do império. Quando morreu, os corvos o levaram.
Da janela viu o quebranto. Mulher de um outro tempo. Emitia
visões para uma platéia manca. Quis entrar, mas um leão estava na porta.
O tempo é arquiteto de ruínas. Seu reino é a demolição de
planos. Deixa como está, então, teimoso Saturno.
Tomei canto do presente. Estava embrulhado com cipó da mata.
Guardava uma planta morta, seca mas intacta. Era para ser exposta no teto do
templo.
Não quis que segurassem a bagagem. Eu mesmo pus no lombo do
cavalo. E subi até a gruta, onde o mistério me aguardava.
Me criei na mansarda. Ela ainda existe, indiferente à
avenida que se formou ao largo. Lá não penetram os apitos e um espírito
desmonta a arma.
Era mulher pálida. Cabelos negros soltos no quarto. Deslizava
até as cortinas e espiava o bosque próximo. Queria saber da Lua, amasiada ao
lobo.
Vieram buscá-la na masmorra.O pai rico a entregara ao
príncipe torpe. Início de novo Calvário.Casamento por interesse no reino da
noite alta
Fui expulso com minhas histórias que imaginava secretas.
Duendes leram no meu sono e levaram ao Ouvidor. Soldados me jogaram no fosso
A rainha roxa me resgatou. Fui adotado na Corte. Escrevo
cartas fictícias de inimigos absolutos. Invento guerras para que soldados sofram.
Dilapido o trono para construir um palácio de cristal sem
adornos. Lá faço misturas de luz de um novo universo.
Desapareci da minha história quando pus o ponto final
impregnado de grossos perfumes. Disfarço com imagens coloridas.