18 de maio de 2013

AULA DE POESIA



Nei Duclós


Fomos para a aula de poesia. As árvores, sóbrias, abrigavam passarinhos.

Amor é rodízio. A toda hora sou substituído, para voltar à mesma comanda.

Fui diminuindo o verso até o fundo, quando ficou do tamanho do teu sim.

Busquei o essencial. Mel, sem identificação.

Me deste o que fazer. Perder-me, para ser feliz.

Fui atrás de ti. Te achei atrás de mim.

Meus olhos tem sede do teu veneno. Qual a textura do teu convite?

Ficaste tonta de tanto encanto. Exageraste na sedução sem conta.

Adoças o bárbaro invasivo, mas não muito. Alguma ruptura é preciso, para agitar a superfície.

A beleza às vezes espanta. Releve se levo um susto.

Há algo em ti que me invoca. Essa postura de flor com voz rouca.

Se alguma coisa pode mudar o mundo é o teu perfume, sorrindo entre flores, como um jardim.

Só nos salva a doçura. Corra que o céu ensina: há pássaros de harmonia no improvável abismo

Beijo a flor imaginada. Ela tem cor de carícia, cheiro de sonho explícito. Fuço o mel, pote de alívio para os minutos felizes

Aguardo que acordes, solfejo de rimas, funda cantoria, susto na véspera do voo mais íntimo.

Antes que notes, teu corpo sabe o momento em que me jogo. E me recebe, à revelia do tempo que nos esconde.

O amor é delicado. Se submeta com cuidado.

Amor é um cofre seguro. O mundo acaba e ele não entrega o segredo

Tens o perfil do verbo que dominas. Do verso ao libelo, és a madura perfeccionista.

Parecia estar longe, mas era ilusão de musa. Está sempre aqui, onde a poesia vem a furo.

Foi-se a beleza junto contigo quando partiste.

Aprendi a eternidade quando comecei a te amar.

Estou onde inventas a primavera.

Pintei diante de ti, flor que desabrocha.

Fui em busca de ti, horizonte.

Gritamos por alimento sem notar que somos envolvidos pela generosidade do sentimento.

O amor sempre assume a forma do coração.

Exagero é o nome de todas as cores do teu beijo.

Decidida, voaste em direção ao meu desejo.

Saltita, voeja, pia, verbos emplumados que atraem teu carinho.

Levantou voo em teu silêncio. Foi um pé de vento em forma de passarinhos.

Adiaste a pegada, que ficou tardia, perdendo para o frio de quase junho, que se aproxima.
Manta de lã é meu sonho que me mantém vivo. Enrole-se nela, labareda tímida.

Só recupero o que sou quando consentes meu canto

Acenas para mim, e já estou na roda. Gira, lisura de fantasia.

Ficas distante por hábito ou porque decidiste o exílio de quem te escolheu como nação?

Rolamos no tempo como folhas. Às vezes o vento nos levanta. É quando vemos os pais, que se foram.

Estava perto, deserto. Buscava água, faminto. És minha tenda, oferenda.

Clico um alô em tua imagem. Cumprimento assim a presença que deixa marca.

Não pense que estou querendo. Queira que eu esteja pensando.



RETORNO - Imagem desta edição: Sofia Loren.