Nei Duclós
Fomos para a aula de poesia. As
árvores, sóbrias, abrigavam passarinhos.
Amor é rodízio. A toda hora sou
substituído, para voltar à mesma comanda.
Fui diminuindo o verso até o fundo,
quando ficou do tamanho do teu sim.
Busquei o essencial. Mel, sem identificação.
Me deste o que fazer. Perder-me,
para ser feliz.
Fui atrás de ti. Te achei atrás de
mim.
Meus olhos tem sede do teu veneno.
Qual a textura do teu convite?
Ficaste tonta de tanto encanto.
Exageraste na sedução sem conta.
Adoças o bárbaro invasivo, mas não
muito. Alguma ruptura é preciso, para agitar a superfície.
A beleza às vezes espanta. Releve se
levo um susto.
Há algo em ti que me invoca. Essa
postura de flor com voz rouca.
Se alguma coisa pode mudar o mundo é
o teu perfume, sorrindo entre flores, como um jardim.
Só nos salva a doçura. Corra que o
céu ensina: há pássaros de harmonia no improvável abismo
Beijo a flor imaginada. Ela tem cor
de carícia, cheiro de sonho explícito. Fuço o mel, pote de alívio para os
minutos felizes
Aguardo que acordes, solfejo de
rimas, funda cantoria, susto na véspera do voo mais íntimo.
Antes que notes, teu corpo sabe o
momento em que me jogo. E me recebe, à revelia do tempo que nos esconde.
O amor é delicado. Se submeta com
cuidado.
Amor é um cofre seguro. O mundo
acaba e ele não entrega o segredo
Tens o perfil do verbo que dominas.
Do verso ao libelo, és a madura perfeccionista.
Parecia estar longe, mas era ilusão
de musa. Está sempre aqui, onde a poesia vem a furo.
Foi-se a
beleza junto contigo quando partiste.
Aprendi a eternidade quando comecei
a te amar.
Estou onde inventas a primavera.
Pintei diante de ti, flor que
desabrocha.
Fui em busca de ti, horizonte.
Gritamos por alimento sem notar que
somos envolvidos pela generosidade do sentimento.
O amor sempre assume a forma do
coração.
Exagero é o nome de todas as cores
do teu beijo.
Decidida, voaste em direção ao meu
desejo.
Saltita, voeja, pia, verbos
emplumados que atraem teu carinho.
Levantou voo em teu silêncio. Foi um
pé de vento em forma de passarinhos.
Adiaste a pegada, que ficou tardia, perdendo
para o frio de quase junho, que se aproxima.
Manta de lã é meu sonho que me mantém vivo. Enrole-se nela, labareda tímida.
Manta de lã é meu sonho que me mantém vivo. Enrole-se nela, labareda tímida.
Só recupero o que sou quando
consentes meu canto
Acenas para mim, e já estou na roda.
Gira, lisura de fantasia.
Ficas distante por hábito ou porque
decidiste o exílio de quem te escolheu como nação?
Rolamos no tempo como folhas. Às vezes o vento nos levanta.
É quando vemos os pais, que se foram.
Estava perto, deserto. Buscava água,
faminto. És minha tenda, oferenda.
Clico um alô em tua imagem.
Cumprimento assim a presença que deixa marca.
Não pense que estou querendo. Queira
que eu esteja pensando.
RETORNO - Imagem desta edição: Sofia Loren.