Nei Duclós
fui mimbora
uma palavra só diante da hora não deixei rastros
ficou a sobra do lanche que fiz pela metade
conversa de compadre no bota fora
testemunhei o parentesco de outras obras
eu só estava ali por um siacaso,
como diziam alhures em priscas eras,
como palavra perdida que dá o fora
e fica a indiferença fazendo cera,
o lixo jamais varrido nos ventos súbitos
e na mania de se jogar a esmo
o que parecia bom e custa caro
mas que só vale mesmo para se pisar sem culpa
e não tenho nada só a paisagem
que se afasta na janela escura
e o ônibus adentra o tempo eterno
em que nada acontece
e quem duvida que é só isso a solidão da esfera
que gira por buscar-se sem sentido
e reencontrar o alvorecer no ocaso
e quando amanheceu era o rebanho de uma fronteira
que se impregna para lá da infância,
quando perdem as botas os personagens
que já não existem
a palavra triste faz
então um espreguiço
sou eu, amor que chego enfim na véspera do batizado
de um adulto sem remorso a festa irá pela noite afora
e a Lua piscará seu único olho para quem revive,
criatura que depois dorme na paz de um novo enredo
quando não for preciso ausentar-se sem motivo
e tudo ficará na mesma roda o galpão cheio,
o arrasta pé e a sanfona tricotando o tempo,
manta de um lã vinda do cosmo.