Nei Duclós
Poesia é a palavra que sonha. E que
voa quando desperta.
Leia pelo avesso o que escrevo
direito. Aí fica certo.
Agua de chuva na sarjeta. És flor
colhida que passa rente à guia. Sou o barco de papel onde encostas as pétalas
em pânico.
Queres que eu reparta tudo contigo
para que caibas em mim.
Passei bem o dia. Ficou estendido na mesa da cozinha. Depois
sacudi, fiz lençol de cama.
Viver complica. Morrer decide. Amar
resolve
Não fiz versos, faltou matéria prima.
Contigo faço jogo duplo: dois
corações para caber o que sinto.
Nos amparamos, fruta que tomba. Somos
humanos, flor da montanha. Quero teu sopro, luar na varanda
Amor, lembra? Amor, não esqueça.
Amor, venha.
Não te convenço porque estás ocupada
em não se convencer de nada.
Poema é pó de letra. Perco o pé na beira, tiro de espoleta,
pesca de piava, assobio de correnteza. Som de colégio no recreio
Ela foi embora, disse o anjo. Sei
que não é verdade, falei. Te usou para me fritar no azeite quente.
Não me respondes, fundura de canyon.
Venha à superfície, desperdício de beijos.
Nem todos morrem. Alguns ficam para
semente. E brotam, como a urtigas.
Não diga com todas as letras. Guarde
algumas para fazer companhia ao silêncio
É dificil disputar você com você
mesma.
Te dei linha, te soltaste. Pousar
ficou no passado.
aímos feridos, nos debatendo.
Precisamos reaprender o voo.
Joguei
fora os versos. Não te serviam mais. Inventei outros. Provas um por um fazendo
muxoxo. Te decides pelo mais afoito. Eu sabia!
Tenho essa postura porque me vejo em
outro mundo. De lá espreito o que preciso ser, servo do teu beijo.
Não vou começar cedo, mas continuar
o que fizemos até tarde.
Faça recall de si mesmo. Mande
recolher os lotes de vida que andou espalhando.
Silenciar nem sempre é calar-se. O
silêncio tem majestade.
RETORNO - Imagem desta edição: Chrfistina Hendricks.