28 de janeiro de 2013

GRÃOS



Nei Duclós

Viver dá trabalho. Vou terceirizar. Ame por mim.

Somos areia que o tempo, vento, dispersa. Às vezes nos reunimos em grãos para ver se brotam.

Me trouxeste o amor na bandeja. Sinta, me disseste.

Sou porco espinho, talento. Esqueça quando arranho, pois me arrependo.

É incurável, não passa. Debaixo de mil camadas da mesma cicatriz.

Não adianta tentar. Voltamos sempre ao mesmo ponto. Lá onde o coração pulsa de verdade, morada do espanto.

Me deixas só contando estrelas. Depois não venha dizer que foi tudo bem, aos prantos.

Puxei tuas pernas no calorão da tarde. O vestido de seda subiu até a cintura. Vi tudo, o caldeirão do teu rosto gritando palavrões com um jeito doce. Mas eu era apenas uma assombração, flor da minha querência.

Estamos perto. Ceda aquele abraço para dar certo.

Passei por ti mas não me viste. Devias ter olhado para cima. Eu estava levitando.
 
Improvisei depois de tanto treino. Preferiste assim, quando joguei fora o discurso. Quiseste a gagueira em vez do arroubo.

Estava frio no deserto. Fazia calor no inverno. Era o amor, trocando as pernas.

Não tens vergonha? disse o catedrático. Prefiro o amor da leitura ao desamor da análise, disse a autoria.

Crisálida tardia, adiaste o voo porque tinhas esperança de me ver chegando. Só eu poderia te libertar com um toque.

Dê lembranças à felicidade, que levas contigo. Diga que estou com saudade. (este verso , como todos os outros dete post, também é meu, foi tuitado por mim, @neiduclos, no dia 23 de janeiro. alguém colocou no facebook dia 26 sem dar o crédito e negando minha autoria)



RETORNO – Imagem desta edição: Jane Russell.