Nei Duclós
Acordei com o quase beijo da meia noite. Chegarei hoje a bom
porto? Diga, coração de seda.
Tão bonito o teu silêncio quando me vês inteiro. Dá vontade
de ficar aqui para sempre.
Arte é amor e se manifesta de muitas maneiras.
Faço poesia para pegar no tranco. A cabeça está em outra
quando acordo no mundo. É preciso trazê-la até o extremo encanto. Isso só se
consegue se estiveres junto.
Se ficarmos assim, próximos de um amor de sonho, talvez
assome no mar o sol que já imaginamos, glorioso a distribuir prazer, fogo em
teu molho.
Quis te mostrar minha coleção de borboletas, mas não estavas
interessada. Preferiste visitar o quarto.
Passei aqui só para perguntar pelo coração que esqueci em
tua morada. Guardaste ou ele ficou atirado no mesmo lugar que deixei de
propósito?
O poema acompanha a beldade armado. Quem faltar com o
respeito, leva chumbo.
Os amores duram cada vez menos. Daqui a pouco serão
reduzidos a um levantar de cabeças seguido de caras de paisagem
Vais embora na primeira quadra do sentimento. Tens medo.
Fico a ver navios, que viram barcos de papel encharcados pela chuva.
Mas algo que parecia
oculto para sempre ressurge na rua dos suspiros. És tu, magnífica. Nenhum amor
está perdido.
Entendi. Foi só um momento. Pertence à areia. Deitei em vão
ao teu lado sob as estrelas do deserto.
Demoras a dizer o que preciso. O dia já avançou um tanto.
Queres que eu provoque um tornado? Eles são imprevisíveis...
No dia dedicado aos construtores de asas de seda, deu um
tempo. Estava cansado. Preferiu retomar no dia seguinte, quando haveria ressaca
do excesso de voos.
RETORNO – Imagem desta edição: Rhona Mitra.