Nei Duclós
Não toque em nada, me disseram. Foi quando aprendi a te
fazer levitar só com a força do meu pensamento.
Ao vivo sou virtual, pois logo sumirei. No mundo digital é
que viro realidade.
Tenho mil maneiras de chegar em ti, como um polvo entrando
numa esponja. Saio aos poucos, fazendo rodízio do que adoras em doce fingimento.
Não sofra pela distância, ela é o de menos. Fosse outro
tempo, jamais teríamos nos visto, imagem de sonho.
Aproveite que estamos perto. Diga sim, delícia de tormento.
Não existem notícias, apenas sorrisos forçados e caras
lambidas dos apresentadores, pontificando em poltronas.
Todos os dias o cardápio é o mesmo: brutalidade, manipulação
e fingimento. Por isso escrevo dez milhões de versos. Reinvento o mundo que
perdemos.
Sorria para dentro. Assim não saberão como destruir tua
esperança. Não porque escondes, mas porque o alvo não estará à mostra.
Não são conselhos, mas registros que o viver me sopra.
Repasso gravando o que digo na asa de um anjo.
RETORNO – Imagem desta edição: Loretta Young.