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3 de março de 2010
SUFOCO NA INTERNET
A internet é uma criatura que está sendo estrangulada e corre o risco de não respirar mais, como acontece atualmente com grande parte da mídia tradicional. O mesmo processo de sucateamento está em pleno vigor, enquanto o aparelhamento corporativo e político ganha status de ciência, fazendo com que a velha comunicologia de resultados, a mesma que justificou o assassínio frio do talento, manipule os novos espaços criados pelo gênio de alguns livre-atiradores da tecnologia.
Partidos em campanha, publicitários e tubarões de todos os matizes tomam de assalto o que até agora era exercido de maneira isenta e livre. Tente ter pleno domínio do seu mouse, sem a interferência publicitária excessiva, por exemplo. Adote um seguidor aparentemente interessante no twitter e verá como ele fará cerco total às suas posições, lutando por um candidato, uma ideologia, uma idéia fixa. Arrisque participar do debate numa comunidade do orkut e verás o deboche, o desprezo, o ataque puro e simples. Faça um comentário para ver como caem em cima dezenas de manifestações pautadas pelo mesmo objetivo, a favor de alguma coisa fora do que está sendo discutido. Tente abrir um claro na conversa, para notar como lutam para ela voltar ao que lhes interessa.
Tudo isso tem estímulo e apoio dos poderes de sempre, maquiados de mudança transcendental, para enganar os trouxas. Obama, o exemplo notório do poder da internet nas campanhas políticas, acaba de prolongar por um ano três dispositivos do "Patriot Act", pacote de leis que o Congresso americano aprovou sem ler (como denunciou Michael Moore em Fahrenheit 9/11, documentário de 2004 que precisa ser revisto) depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. As chamadas leis antiterroristas foram a chance aproveitada pela direita americana para sucatear direitos garantidos pela constituição americana. O que o universo digital tem a ver com isso?
Um dos dispositivos ampliados é o da "vigilância móvel" das comunicações de suspeitos que utilizam várias linhas telefônicas (fique no seu lugar; isso é só para quem pode). Outro é o princípio chamado de "lobo solitário", que permite investigar uma pessoa que parece atuar para conta própria (em frente a um micro, por exemplo) E foi prolongada ainda a possibilidade de as autoridades ter acesso a "todos os dados tangíveis", como e-mails, de um suspeito. Quer dizer algo privado para alguém? A grande pata de urso está sobre você.
Disse acima que o documentário de Moore precisa ser revisto. Fiz isso ontem. Ali é dito com todas as letras que uma dissidência saudita cometeu o 11 de setembro, mas como os sauditas estão abraçados aos Bush há décadas, via indústria do petróleo e outros nichos, detendo 7% da economia americana, o foco foi desviado para o Iraque, do bobalhão Sadam, que dava bandeira sem ter cacife para isso. O mais impressionante foi o esquema usado, por meio da notícia plantada nas grandes redes de televisão, reforçadas por discursos da direita em vários eventos (mostrados no filme na cara cínica dos conferencistas) e mais tarde apoiadas pelo resto da mídia, que adotou uma postura “patriótica” para invadir um país que nada tinha a ver com o atentado.
É assustador, no filme, o envolvimento da Microsoft no “esforço de reconstrução” do Iraque. Sinal que o caminho já foi definido. Com a internet, foi preciso fazer uma reciclagem. A rede escapou por um tempo da mão dos manipuladores, mas tudo agora volta ao leito normal. A extrema dispersão e as manifestações simultâneas em massa, onde é difícil detectar credibilidade, já que tudo é contestado de todas as maneiras, ajudam a perversidade em ação. O importante é desmascarar argumentos, enterrar fatos, expô-los ao máximo para serem esquecidos em seguida, tudo em nome da liberdade de expressão.
Qual a saída? Não sei. Aqui no Diário da Fonte, continuamos desde 2002 batendo nas mesmas teclas. Às vezes dás um cansaço tremendo. Mas não temos outro recurso, a não ser aprofundar o criamos desde que a rede se ofereceu como uma alternativa ao sufoco geral. Agora corremos o risco de novo estrangulamento. Precisamos de fôlego, preparo e vontade. Devemos lutar entre desiguais pela paz na diferença e a vitória da liberdade em qualquer tempo e em qualquer lugar.
A linguagem é a única arma que dispomos.
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