Todo filme é sobre cinema. Um longo caminho (2005), dirigido por Yimou Zhang e com Ken Takakura e um elenco de atores amadores, não foge à regra. A morte, nessa obra, é representada pela ausência da indústria audiovisual na vida dos personagens. O velho, que depois de perder a mulher se recolhe a uma aldeia de pescadores, não tem sequer televisão. Sua tela, a natureza, que atrai sua atenção durante horas, é a extrema solidão de um mundo sem cinema. Ele só existe porque está sendo filmado por Yimou, cineasta deslumbrante de vários sucessos.
O personagem Takata, que ao se recolher exclui o filho do seu convívio, quer resgatar essa relação familiar tarde demais. O filho, que sofre de doença terminal, nem aparece, portanto está praticamente morto. Subsiste sua memória, um vídeo sobre sua paixão pelas óperas chinesas. E estas, recolhidas numa aldeia distante e no presídio, só existirão no momento em que forem filmadas.
A história é sobre o longo percurso do protagonista para conseguir filmar uma ópera prometida pelo cantor. Como ele conseguirá seu objetivo? Por meio do cinema. Só quando ele grava um depoimento para o diretor da prisão, sobre sua necessidade de focar a ópera com determinado intérprete, que está preso, é que as portas se abrem. Mas a operação se complica. O cantor, por sua vez, precisa ver o filho, de cinco anos, que nem chegou a conhecer.
Takata então vai até a aldeia e fotografa o menino, para mostrar ao pai. O velho precisava da ópera para resgatar uma relação perdida. Como acontece o desenlace ( a doença terminal enfim vence a batalha) no meio da viagem, seu intento perde o sentido. O que resta é apenas mostrar as fotos do garoto para o pai presidiário.
A responsabilidade de filmar escapa assim do indivíduo e é empalmada pela coletividade, pois agora todos os que se envolveram com a história do velho querem que ele consuma sua intenção. Ele cede diante das pressões e o que vemos então é a ópera filmada. Mas filmada por quem? Pelo protagonista, sim, mas principalmente por Yimou. O cineasta assume o papel da coletividade e faz do seu cinema uma arte coletiva.
Yimou busca as origens do cinema, seu sentido. Para que fazer filmes? Para que a coletividade se enxergue e assim não morra. Para que serve um cineasta? Para instrumentar a sociedade com essa arte completa, o cinema, e assim garantir a identidade, a herança. Já que a relação entre pai e filho se esgarçou, já que a família se perdeu, já que não somos mais nações, mas amontoados de gente em luta pela sobrevivência a qualquer custo, resta ao cinema recuperar esse convívio e isso só se consegue por meio da imagem e do som, por meio da sétima arte.
É complicado esse enfoque? Acho que não. Por que ninguém fala nisso? Ficam malhando o resultado, dizendo que é um melodrama. Dá licença. Yimou mata a pau. Fez obras imperais como aquele das adagas voadoras, que é excelente, apesar de estar a serviço da grandiosidade da China moderna, mas fez também “Nenhum a menos”, sobre a saga da professorinha que vai em busca do aluno perdido. Yumou saiu do cinema de autor para o megablockbuster. Nesse longo caminho, voltou às suas origens de cineasta. É o que ele faz. Tinha perdido o foco, concedido demais. Usou seu prestígio para fazer de novo uma obra de autor. Benvindo de volta à casa, gênio.
O personagem Takata, que ao se recolher exclui o filho do seu convívio, quer resgatar essa relação familiar tarde demais. O filho, que sofre de doença terminal, nem aparece, portanto está praticamente morto. Subsiste sua memória, um vídeo sobre sua paixão pelas óperas chinesas. E estas, recolhidas numa aldeia distante e no presídio, só existirão no momento em que forem filmadas.
A história é sobre o longo percurso do protagonista para conseguir filmar uma ópera prometida pelo cantor. Como ele conseguirá seu objetivo? Por meio do cinema. Só quando ele grava um depoimento para o diretor da prisão, sobre sua necessidade de focar a ópera com determinado intérprete, que está preso, é que as portas se abrem. Mas a operação se complica. O cantor, por sua vez, precisa ver o filho, de cinco anos, que nem chegou a conhecer.
Takata então vai até a aldeia e fotografa o menino, para mostrar ao pai. O velho precisava da ópera para resgatar uma relação perdida. Como acontece o desenlace ( a doença terminal enfim vence a batalha) no meio da viagem, seu intento perde o sentido. O que resta é apenas mostrar as fotos do garoto para o pai presidiário.
A responsabilidade de filmar escapa assim do indivíduo e é empalmada pela coletividade, pois agora todos os que se envolveram com a história do velho querem que ele consuma sua intenção. Ele cede diante das pressões e o que vemos então é a ópera filmada. Mas filmada por quem? Pelo protagonista, sim, mas principalmente por Yimou. O cineasta assume o papel da coletividade e faz do seu cinema uma arte coletiva.
Yimou busca as origens do cinema, seu sentido. Para que fazer filmes? Para que a coletividade se enxergue e assim não morra. Para que serve um cineasta? Para instrumentar a sociedade com essa arte completa, o cinema, e assim garantir a identidade, a herança. Já que a relação entre pai e filho se esgarçou, já que a família se perdeu, já que não somos mais nações, mas amontoados de gente em luta pela sobrevivência a qualquer custo, resta ao cinema recuperar esse convívio e isso só se consegue por meio da imagem e do som, por meio da sétima arte.
É complicado esse enfoque? Acho que não. Por que ninguém fala nisso? Ficam malhando o resultado, dizendo que é um melodrama. Dá licença. Yimou mata a pau. Fez obras imperais como aquele das adagas voadoras, que é excelente, apesar de estar a serviço da grandiosidade da China moderna, mas fez também “Nenhum a menos”, sobre a saga da professorinha que vai em busca do aluno perdido. Yumou saiu do cinema de autor para o megablockbuster. Nesse longo caminho, voltou às suas origens de cineasta. É o que ele faz. Tinha perdido o foco, concedido demais. Usou seu prestígio para fazer de novo uma obra de autor. Benvindo de volta à casa, gênio.
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