Já tenho meus candidatos ao Oscar de 2009. Um deles é o de melhor ator (principal ou coadjuvante, sei lá) para Forrest Whitaker no papel do policial chefão de Los Angeles em Os reis da rua (Street Kings). Vejam o filme para me dar razão. O cara se supera. Está a mil anos luz de sua performance premiada como Idi Amin. É um personagem muito mais complexo, que assusta e nos gruda na tela. Outros candidatos são o designer de produção Jim Bissell e de figurino Louise Frogley, ambos da equipe vencedora de George Clooney, que arrasam no filme dirigido por Clooney Leatherheads (Cabeças de Couro, uma referência aos capacetes dos primeiros jogadores profissionais do futebol americano, nos anos 20).
Nas locadoras o filme aparece com o título “O amor não tem regras” e uma capinha sem-vergonha comum, que não faz justiça ao grande trabalho executado pelos dois designers. No elenco, além do diretor, Renée Zellweger (maravilhosa, como sempre) no papel da repórter furona e John Krasinski, que interpreta o primeiro astro profissional do esporte que tanto encanta os Estados Unidos. Para mim sempre foi chato e de uma brutalidade sem sentido, em que os caras se pegam a socos e e empurrões para avançar algumas jardas e trabalham um objeto de couro ovalado a que chamam de bola, contrariando assim a geometria e o bom senso.
Pelé, que foi convidado para jogar esse troço, explicou que jamais sairia do verdadeiro futebol onde os jogadores, antes de receber a bola, são obrigados a pensar, ao contrário do football deles, onde o que conta é a força bruta e a esperteza sacana. Clooney mostra porque a modalidade ficou chata, depois que inventaram um monte de regras, na época em que ela migrou do amadorismo das universidades para os ingressos pagos dos grandes estádios. Acabou o divertimento, dizem os jornalistas nas cabines de rádio.
Mas por que o filme merece um Oscar nos itens visuais? Porque é um show o tom sépia conseguido por todo o trajeto da obra, totalmente baseado nos jornais e na publicidade dos anos 20. O filme é praticamente em sépia, no tom de ouro, mas não desse amarelo fake de tantos filmes. Algo misturado com barro, com grão de terra, em que as poucas cores diferentes, como o azulão, aparecem raramente como a mostrar a colorização de páginas de jornais antigos. É um assombro.
Aposto também que os escritores Duncan Brantley, especialista em esportes, e Rick Reilly, talentoso escriba de textos para programas humorísticos da TV, serão também candidatos ao Oscar. Os diálogos seguem o ritmo visual do cinema mudo (o que parece ser um paradoxo), mais precisamente da slapstick, a comédia ligeira da época, que celebrizou Chaplin e seus pares. É uma gag verbal de gênio atrás da outra. E, sintonizadas com essa arte, seqüências de movimentos hilários. Há até uma seqüência inteira com policiais uniformizados, perseguições em escadas e corpos que se atiram dos andares altos, numa referência explícita à slapstick, considerada ingênua mas que exige grande concentração, preparo físico, noção de timing e talento.
Não é o que acontece com Clooney e Renée. Eles não são bons na comédia, mas são grandes intérpretes e sua química funciona no romance. Talvez por ter sido muito radical no soberbo “Boa noite , boa sorte”, o preto e branco sobre o jornalismo televisivo de combate dos anos 50 perseguido pelo macartismo, Clooney foi obrigado a conceder demais ao entertainment, ao fun, nesta produção. Deveria manter a sobriedade, apesar de ser uma comédia (mas romântica!) e não resvalar às vezes para o pastelão, por mais que se justificassem os trechos de perseguição na época da Lei Seca.
Não chega a estragar o filme, mas elimina a chance de se tornar memorável em todos os sentidos. Mesmo assim, de cara, já tem um lugar no pódio pelo cuidado da produção, pela excelência dos detalhes, por conseguir nos trazer os anos 20 por meio de uma representação, o sépia, o cenário, as roupas, os textos. Vale a pena. Eu gostei. Queria mais, mas gostei com o que foi conseguido. Grande Clooney. Grande Renée.
RETORNO - Para escrever o post acima, contei com a consultoria magnífica de análise e reportagem neste link.
Nas locadoras o filme aparece com o título “O amor não tem regras” e uma capinha sem-vergonha comum, que não faz justiça ao grande trabalho executado pelos dois designers. No elenco, além do diretor, Renée Zellweger (maravilhosa, como sempre) no papel da repórter furona e John Krasinski, que interpreta o primeiro astro profissional do esporte que tanto encanta os Estados Unidos. Para mim sempre foi chato e de uma brutalidade sem sentido, em que os caras se pegam a socos e e empurrões para avançar algumas jardas e trabalham um objeto de couro ovalado a que chamam de bola, contrariando assim a geometria e o bom senso.
Pelé, que foi convidado para jogar esse troço, explicou que jamais sairia do verdadeiro futebol onde os jogadores, antes de receber a bola, são obrigados a pensar, ao contrário do football deles, onde o que conta é a força bruta e a esperteza sacana. Clooney mostra porque a modalidade ficou chata, depois que inventaram um monte de regras, na época em que ela migrou do amadorismo das universidades para os ingressos pagos dos grandes estádios. Acabou o divertimento, dizem os jornalistas nas cabines de rádio.
Mas por que o filme merece um Oscar nos itens visuais? Porque é um show o tom sépia conseguido por todo o trajeto da obra, totalmente baseado nos jornais e na publicidade dos anos 20. O filme é praticamente em sépia, no tom de ouro, mas não desse amarelo fake de tantos filmes. Algo misturado com barro, com grão de terra, em que as poucas cores diferentes, como o azulão, aparecem raramente como a mostrar a colorização de páginas de jornais antigos. É um assombro.
Aposto também que os escritores Duncan Brantley, especialista em esportes, e Rick Reilly, talentoso escriba de textos para programas humorísticos da TV, serão também candidatos ao Oscar. Os diálogos seguem o ritmo visual do cinema mudo (o que parece ser um paradoxo), mais precisamente da slapstick, a comédia ligeira da época, que celebrizou Chaplin e seus pares. É uma gag verbal de gênio atrás da outra. E, sintonizadas com essa arte, seqüências de movimentos hilários. Há até uma seqüência inteira com policiais uniformizados, perseguições em escadas e corpos que se atiram dos andares altos, numa referência explícita à slapstick, considerada ingênua mas que exige grande concentração, preparo físico, noção de timing e talento.
Não é o que acontece com Clooney e Renée. Eles não são bons na comédia, mas são grandes intérpretes e sua química funciona no romance. Talvez por ter sido muito radical no soberbo “Boa noite , boa sorte”, o preto e branco sobre o jornalismo televisivo de combate dos anos 50 perseguido pelo macartismo, Clooney foi obrigado a conceder demais ao entertainment, ao fun, nesta produção. Deveria manter a sobriedade, apesar de ser uma comédia (mas romântica!) e não resvalar às vezes para o pastelão, por mais que se justificassem os trechos de perseguição na época da Lei Seca.
Não chega a estragar o filme, mas elimina a chance de se tornar memorável em todos os sentidos. Mesmo assim, de cara, já tem um lugar no pódio pelo cuidado da produção, pela excelência dos detalhes, por conseguir nos trazer os anos 20 por meio de uma representação, o sépia, o cenário, as roupas, os textos. Vale a pena. Eu gostei. Queria mais, mas gostei com o que foi conseguido. Grande Clooney. Grande Renée.
RETORNO - Para escrever o post acima, contei com a consultoria magnífica de análise e reportagem neste link.
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