Nei Duclós (*)
Chega a enjoar a quantidade de vezes em que é usada a expressão “nosso dinheiro” quando se fala em recursos públicos recolhidos dos impostos. É a mesma nomenclatura da bandidagem. “Onde está o meu dinheiro?” diz o facínora, perguntando pela grana da vítima. Com uma diferença: o algoz reivindica o que nunca foi seu, enquanto o cidadão quer de volta o que não é mais seu (mesmo que, por lei, tenha de ser usado a seu favor).
Dá para entender porque se diz isso de maneira tão recorrente e de maneira impune. É porque todo dinheiro, num país desprovido da força legítima do Estado, está è deriva e, em tese, qualquer um pode se apossar dele, sob os mais variados pretextos. Tanto o assaltante quanto o cidadão se consideram expropriados de seus direitos. Os métodos divergem. Um usa arma, outro simplesmente protesta. Isso abre a guarda para a demagogia nas campanhas políticas ou na economia de auto-ajuda. Quando alguém fala em nosso dinheiro, está tentando ganhar apoio, ou seja, dinheiro.
Recurso público não é propriedade de indivíduos ou empreendimentos. O dinheiro pertence ao Estado e a mais ninguém. Não é mais seu, meu ou nosso. Senão, qualquer um poderia retirar do cofre coletivo o que bem lhe aprouvesse. Pode-se argumentar: sim, mas esse montante pertencia à sociedade, que foi injustamente aliviada do que é seu e agora está à disposição da corrupção oficial. Pertenciam. Esse é o ponto. A sociedade outorga ao Estado a função de dispor do caixa.
No momento em que você não reconhece o Estado como proprietário legítimo (governo é só o gerente) do dinheiro público, você terceiriza a responsabilidade de trabalhar a favor de um governo fundado na ética. No fundo, queremos a bufunfa de volta, pois aqui debaixo do colchão faremos melhor proveito dela.
O dinheiro é da nação, mesmo que exista gestão participativa. A sociedade pode decidir o rumo, lutar para diminuir o arrocho arrecadador, mas jamais poderá negar a natureza dos recursos que pertencem ao Estado. A não ser que se funde outro regime, sem a presença desse poder que paira, em tese, acima do círculo pessoal. Aí sim, o dinheiro vai pertencer a todo mundo. Ou seja, a ninguém.
RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 30 de setembro de 2008, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem de hoje: Torre Eiffel, em Paris, foto de Daniel e Carla Duclós. Os franceses sabem o que fazer com o dinheiro do Estado francês.
Chega a enjoar a quantidade de vezes em que é usada a expressão “nosso dinheiro” quando se fala em recursos públicos recolhidos dos impostos. É a mesma nomenclatura da bandidagem. “Onde está o meu dinheiro?” diz o facínora, perguntando pela grana da vítima. Com uma diferença: o algoz reivindica o que nunca foi seu, enquanto o cidadão quer de volta o que não é mais seu (mesmo que, por lei, tenha de ser usado a seu favor).
Dá para entender porque se diz isso de maneira tão recorrente e de maneira impune. É porque todo dinheiro, num país desprovido da força legítima do Estado, está è deriva e, em tese, qualquer um pode se apossar dele, sob os mais variados pretextos. Tanto o assaltante quanto o cidadão se consideram expropriados de seus direitos. Os métodos divergem. Um usa arma, outro simplesmente protesta. Isso abre a guarda para a demagogia nas campanhas políticas ou na economia de auto-ajuda. Quando alguém fala em nosso dinheiro, está tentando ganhar apoio, ou seja, dinheiro.
Recurso público não é propriedade de indivíduos ou empreendimentos. O dinheiro pertence ao Estado e a mais ninguém. Não é mais seu, meu ou nosso. Senão, qualquer um poderia retirar do cofre coletivo o que bem lhe aprouvesse. Pode-se argumentar: sim, mas esse montante pertencia à sociedade, que foi injustamente aliviada do que é seu e agora está à disposição da corrupção oficial. Pertenciam. Esse é o ponto. A sociedade outorga ao Estado a função de dispor do caixa.
No momento em que você não reconhece o Estado como proprietário legítimo (governo é só o gerente) do dinheiro público, você terceiriza a responsabilidade de trabalhar a favor de um governo fundado na ética. No fundo, queremos a bufunfa de volta, pois aqui debaixo do colchão faremos melhor proveito dela.
O dinheiro é da nação, mesmo que exista gestão participativa. A sociedade pode decidir o rumo, lutar para diminuir o arrocho arrecadador, mas jamais poderá negar a natureza dos recursos que pertencem ao Estado. A não ser que se funde outro regime, sem a presença desse poder que paira, em tese, acima do círculo pessoal. Aí sim, o dinheiro vai pertencer a todo mundo. Ou seja, a ninguém.
RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 30 de setembro de 2008, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem de hoje: Torre Eiffel, em Paris, foto de Daniel e Carla Duclós. Os franceses sabem o que fazer com o dinheiro do Estado francês.
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