Nei Duclós
Tudo e suportável quando a vida não enfrenta a dor maior de
uma perda de alguém tão próximo que faz parte do nosso corpo e do nosso sangue.
Quando perdi minha mãe, o impacto foi tão fundo que prometi não comparecer mais
a enterro nenhum. Não imaginava um funeral com meu próprio filho.
O luto tem sido insuportável, mas assim mesmo imaginava
poder ter forças para cumprir meu compromisso com a Feira do Livro de Porto
Alegre hoje. Peço desculpas aos organizadores, que abriram generosamente espaço
para meu novo romance, ao patrono e amigo Dilan Camargo e a todas as pessoas
queridas que iriam me abraçar neste momento difícil. Mas não consegui me mover
do lugar onde sepultei meu amado Miguel.
Meu livro é sobre o sacrifício de vidas que procuram
transcender sua passagem terrena numa missão, numa obra árdua. Protagonistas
reais e inventados enfrentam a dor da perda e a luta permanente por uma nação
aos pedaços. Assim é que sinto o Brasil, envolvido com a morte prematura de
tantos jovens, completamente partido como país e comprometido em seu futuro. Só
nos resta nos manter focado em nossa missão, carregando junto o amor
insubstituível de alguém que vi nascer, crescer, se realizar e morrer.
Deus nos ajude a nos convencer de que isso realmente
aconteceu. Por mais palavras de apoio, jamais vou me conformar. A vida segue
numa luta sem fim.
Estamos de luto, que é a radicalidade da morte. E é também
do verbo lutar, que é a radicalidade da vida.
Deus te abençoou com poesia, essa força de amor maior. Lute com ela, por você, por ele, por tudo. É Vida.
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