Nei Duclós
Vejo doc sobre Sergio Leone na TV Cultura e ele diz que o
cinema serve para expressar ideias etc. Fico sempre invocado para descobrir
onde fica, entre os cineastas, minha abordagem de que todo filme é sobre
cinema. De repente Leone começa a falar de Era uma vez na América e diz:
- O título deveria ser Era uma vez uma forma de fazer
cinema.
Bingo!
No doc, um crítico lembra que certa vez foi convidado por
Leone para conversar sobre seus filmes. O crítico não gostava da falta de
relação dos faroestes italianos com a História do Oeste. O jantar foi um
fracasso, pois o crítico tentou deitar sabedoria sobre o que ele considerava
sua especialidade. Só muito tempo depois descobriu que não havia relação entre
os faroestes de Leone e o passado americano. Era fabulas na forma de faroestes.
Certamente. Os filmes não são História, são apenas cinema.
Leone conta que Henry Fonda, considerado por ele o maior e
mais importante ator do cinema americano, chegou na Italia para filmar Era Uma
Vez no Oeste todo amorenado, com grandes costeletas e lentes de contato
marrons. Aos poucos Leone foi convencendo Fonda a tirar aquela fantasia do que
o ator imaginava ser uma caracterização latina. Queria filmar um vilão
impiedoso com os olhos azuis dos mocinhos americanos. Só então caiu a ficha de
Fonda.
Sem Charles Chaplin, diz Leone, ele e muitas cineastas nem
existiriam. Sempre acabamos passando por ele, diz.
Leone morreu em 1989 de um ataque cardíaco, na véspera de
filmar o cerco de Leningrado, projeto que deu um trabalhão danado durante anos.
O documentário acaba com a fala de Clint Eastwood em Três Homens em Conflito:
"Isso depois que salvei sua vida várias vezes".
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