5 de janeiro de 2015

PALAVRAS QUE VENTAM



Nei Duclós

É mágica a gramatura do entorno dos teus joelhos. Ela se manifesta como previsão de climas quentes na rosa dos ventos.

Começo pelo que mostras, termino pelo que escondes.

Nem é preciso ir adiante. Basta esse perfume que exalas com tuas palavras que ventam.

Se ficasses na distância de um toque, estaríamos agora num alto mar sem interferências.

Fico sempre só, observador de pombas. No telhado arrulhas invisível, distante.

Atrás do biombo do poema trocas de roupa. Eu nada vejo, exilado do sonho.

Você diz adeus antes que seja tarde. Precisamos dessa falta, que alimenta o futuro de promessas.

Nunca tivemos um momento. Quem sabe agora, que está tudo deserto e até as flores se recolhem na água que ninguém encontra?

Não haverá remorso se formos autênticos. Você com a beleza, eu solto no espaço.

Nem sabes o que estás perdendo, quando não prestas atenção na linguagem dos meus sinais de espanto.

Não leve a mal meu assombro. Sou um admirador da arte manifesta em teu corpo.

Dar um tempo. Te venderam esta ideia.

Não leio o que dizem teus admiradores. Não é ciúme, é ação preventiva para evitar hecatombes.

Não repartimos mais a lua. Fico na minha, você na sua.

Achas que não sei. Mas te conheço. Não digo nada porque de ti ninguém me tira.

Nem que te ajoelhes, com essas pernas divinas, cederei aos teus desígnios. Ficarei imune enquanto queimo imaginando o paraíso.

Cobras a produção de versos, como se eu fosse servo deste ofício. Vou emudecer completamente enquanto meu olhar sinistro te cozinha entre gritos.

Sentes fome de palavras, devoradora de mitos. Suspiras entre estrofes que ringem, como teu corpo quando no amor faz ruído.

Me acostumei contigo. Agora é fácil. É só quebrar todos os móveis.

Se esbalde com a novidade. Depois se recolha, debalde.

Quando pedem tempo num jogo, não é para sair do campeonato.

Dás um tempo comigo. Com os outros, pegas de volta.

Não receie. Qualquer coisa descemos da aventura sem que nada conste. Mas ficará o sabor doce desse encontro.

Não fuja desta isca iminente. As linha se estica até a alegria chegar de repente.



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