Nei Duclós
Ainda não abrimos, disse o anjo. Mas
fiquei sem poesia, disse a bela.
É muito cedo. Desse jeito vai
bagunçar tudo, disse o sujeito da portaria. Não importa, disse ela. Quero
agora.
Ok, vamos distribuir os primeiros
versos. Mas cuidado. A poesia precisa de tempo para não esfarelar-se na
primeira hora.
O bom é que o poema pode ser criado
em todo coração amoroso. Não tem centro essa arte generosa.
Te beijei em todas as línguas.
Traduziste dizendo sim.
Voa, meu amor, no céu da tua
vontade. Acompanhe a nuvem que te acalma. Suba até o beijo e depois pule no
abismo do que somos.
Não sou chegado em saudade. Fechei o portão das partidas.
Agora é obrigatório pousar em meu convívio.
É dificil acertar. Só acontece
porque permites, e assim mesmo me manténs no escuro. Tua arma é a dúvida.
Há tempos que não nos cruzamos. Na
última vez foi difícil desengatar o frêmito. Será que ficamos ressabiados?
Faz tempo que não te dou uns beijos.
Não desses de cumprimentos. Mas daqueles...
Pintei eu te amo no granito. Sempre que passo dou um grito.
Repito teu nome até perder as
forças. Não é mais saudade, é calamidade.
Você vem à tona quando eu te contava
perdida. Trazes uma mensagem no coração de vidro. Quebre o lacre, me dizes,
para ler o que está escrito.
RETORNO - Imagem desta edição: Caterina Murino.