Nei Duclós
Há tanta felicidade no primeiro encontro, que o coração
parece sair da forma e pipocar na calçada como um balão vadio.
Ao te conhecer media as palavras pelo andar da tua escuta.
Focado nos pássaros, teu ouvido capturava uma seresta. Eu treinava o violino da conversa.
Repartimos o mesmo sonho porque somos idênticos de tão
diferentes. Vasos comunicantes, interação de gêneros. Fora da percepção viciada
que só traz sofrimento.
Escute a vogal, soe a consoante. Forje o fôlego amante. Tens
assim o poema, representação da beleza que te encanta.
Saimos do circuito, nos desvencilhamos. Inauguramos o campo
um pouco antes da tempestade. Nos abrigamos num telhado coberto de primaveras.
ENTREGA
Mulher sonhada molha o pé na beira da própria lágrima. A
real enxuga a palavra derramada em sua mesa. A que fica toca a nota musical da
tua entrega.
Senti falta do acampamento no escuro, quando escutava tua
respiração misturado ao barulho noturno. Eram asas de seda que zuniam no mesmo
ritmo do mar, nossa loucura.
Teu olhar salta no meio da noite me dando um susto. Sou
fisgado e fico mudo.
Queres cama não para se render às imposições, mas porque
convidaste de um jeito que só a brisa adivinha e os corações agradecidos
entendem.
Não para nunca esse amor que faz a cama enquanto não chegas,
maravilha.
Me passas a limpo e me devolves a versão original. Ficas com
a cópia, mulher perfeita.
FASES
Subo na superfície e tiro a cortina para ver o que tem
dentro da Lua, mas só vejo o céu escuro forjando estrelas
Quando vais abandonar esta execrável fase do amor? perguntou
o militante saudosista. Quando for subjugado pela farsa da ideologia, disse o
poeta
Sente-se à direita, disse o reacionário. Sente-se à esquerda,
disse o revolucionário. Sente-se no centro, disse o pragmático. Senta aqui
comigo, ela disse.
Me indicaste para um monte de gente, e era só tu quem eu
queria.
RETORNO – Imagem desta edição: Natalie Wood .