9 de agosto de 2012

SERESTA


Nei Duclós

Há tanta felicidade no primeiro encontro, que o coração parece sair da forma e pipocar na calçada como um balão vadio.

Ao te conhecer media as palavras pelo andar da tua escuta. Focado nos pássaros, teu ouvido capturava uma seresta. Eu treinava o violino da conversa.

Repartimos o mesmo sonho porque somos idênticos de tão diferentes. Vasos comunicantes, interação de gêneros. Fora da percepção viciada que só traz sofrimento.

Escute a vogal, soe a consoante. Forje o fôlego amante. Tens assim o poema, representação da beleza que te encanta.

Saimos do circuito, nos desvencilhamos. Inauguramos o campo um pouco antes da tempestade. Nos abrigamos num telhado coberto de primaveras.


ENTREGA

Mulher sonhada molha o pé na beira da própria lágrima. A real enxuga a palavra derramada em sua mesa. A que fica toca a nota musical da tua entrega.

Senti falta do acampamento no escuro, quando escutava tua respiração misturado ao barulho noturno. Eram asas de seda que zuniam no mesmo ritmo do mar, nossa loucura.

Teu olhar salta no meio da noite me dando um susto. Sou fisgado e fico mudo.

Queres cama não para se render às imposições, mas porque convidaste de um jeito que só a brisa adivinha e os corações agradecidos entendem.

Não para nunca esse amor que faz a cama enquanto não chegas, maravilha.

Me passas a limpo e me devolves a versão original. Ficas com a cópia, mulher perfeita.


FASES

Subo na superfície e tiro a cortina para ver o que tem dentro da Lua, mas só vejo o céu escuro forjando estrelas

Quando vais abandonar esta execrável fase do amor? perguntou o militante saudosista. Quando for subjugado pela farsa da ideologia, disse o poeta

Sente-se à direita, disse o reacionário. Sente-se à esquerda, disse o revolucionário. Sente-se no centro, disse o pragmático. Senta aqui comigo, ela disse.

Me indicaste para um monte de gente, e era só tu quem eu queria.


RETORNO – Imagem desta edição: Natalie Wood .