Nei Duclós
Acordas em mim, amanhecer.
Estavas me esperando, firme, enquanto eu dava voltas ao
redor da Lua
Leve contigo o verso que cultivo. Ele brotará à noite,
quando tudo estiver dormindo, menos nossa vontade de atravessar o abismo.
Não tenho outro assunto. Puxo conversa só com teu sonho.
Vamos comemorar o sol de agosto. Traga esse início de suor
em tuas dobras. Eu levarei espinho, que verga no roçar do rosto.
Águas internas, generosidade em cascata, fim das barragens.
Salto da pedra num mergulho sem volta
Quanto mais evapora, mais brota.
Se eu conseguir agarrar os teus cabelos, morreremos.
Mal levantamos e já queremos cama
É impossível esse amor feito de estranhezas. Mas quem
garante lógica no brinquedo bruto e prazeroso das mentes dominadas pelo suspiro
dos corpos?
Deveria estar me ocupando com receitas, mas prefiro provar o
bolo antes mesmo de colocar a mão na tua massa.
Maravilhosa criatura que não mereço, mas fica perto: basta
um beijo teu para o dia sussurrar seu segredo.
Eles nos cobrem de palavras ditas inevitáveis. Mas nós
tecemos uma vela para navegar no límpido mar do coração jamais saturado de
paixão.
O que é eterno é esse motor de sonho que nos mantém
despertos num outro espaço, o que inventamos para viver.
Amor é uma vez só. E depois acaba o mundo. Porque o mundo se
dispensa, mas não o sentimento.
VIRTUAL VIRTUDE
Virtual está próximo da virtude, por mais transgressão que
sugira. Planetas que não se tocam exercem mútua gravidade. Poema é movimento de
elipse que gera fases diversas em teus redutos.
Cada clic é uma persona. Ninguém te captura, ninfa que
aguarda, mas devora.
Fiz fantasias com a metade do teu rosto, mas isso foi quando
eu ainda não estava completo.
Tinhas sumido. Tão bonita que até parece um crime deixar de
ver o que tens de mais explícito: o espírito claro e sua imagem feminina.
Quando enfim nos conhecermos, passarei a mão na tua
superfície, Lua distante.
Somos diferentes, ele disse ao partir. Concordo, disse ela.
Eu sou do amor.
RETORNO – Imagem desta edição: Marylin Monroe.