12 de abril de 2005

PARA NOSSO GOVERNO




A arte de governar não pode passar por Maquiavel, que é amadíssimo pela nova direita, a mesma que adora tiradas filosóficas como "uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa", o que nem sempre é verdade, mas que serve para desvincular causa de conseqüência. Esse corte entre o que gera o horror e o próprio horror é o álibi perfeito para a falta de Estado em que nos encontramos. É preciso encontrar soluções (não convido ninguém a refletir porque reflexão não precisa de convite). A oposição que existe para um governante lidar não é entre conservadores e progressistas, mas entre ética e bandidagem. Um conservador pode ser uma flor de pessoa e um dito progressista pode não ser flor que se cheire, e vice-versa. Ética depende do observador, dirão os incrédulos. Mas tem coisa que não dá para esconder.

GOLPE - Quando juízes são mandantes de assassinatos, como suspeita o Ministério Público, quando policiais são autores de chacinas, como desconfia o delegado e confirmam as testemunhas, quando o presidente da Câmara se orgulha de apaniguar parentes, como vi ontem na televisão, quando empresas de segurança contratam ladrões, como apareceu no JN, é preciso colocar as barbas de molho. Um golpe de estado para "repor as coisas no lugar" fica iminente e então repetiremos a cena de Terra em Transe: sua irresponsabilidade política, sua irresponsabilidade política (fala de Othon Bastos), seu anarquismo (Paulo César Pereio). Duas páginas sobre o grande filme de Glauber foram publicadas no segundo caderno de O Globo de domingo. Dizem como Glauber enlouquecia os atores para conseguir aquele clima de delírio que existe nos seus filmes. Vivemos hoje em plena Terra em Transe. O filme é mais atual do que nunca. A extrema direita, que domina o país e deixa o Lula governar porque assim fica mais fácil, está pronta para retomar as rédeas de tudo, já que a democracia foi desmoralizada de Collor a Lula. Se isso acontecer, bye bye Brasil. A direita arrepende-se de ter matado pouco nos anos de chumbo (como admitiu o deputado Jair Bolsonnaro). Aqui não é a Argentina, país que colocou os ditadores na cadeia e bateu panela até o FMI ir embora e surgir um Kirchner, que se não se comportar direito o povo na rua o expulsa com todos os gritos. Não temos opinião pública, temos ódio estocado. Nossos músculos estão retesados, cronicamente inflexíveis. Quando matam por matar faz-se uma pesquisa de opinião e surge uma enorme quantidade de pessoas dizendo que foi bem feito, como mostrou o Globo de domingo.

DRAGÃO - Para governar é preciso neutralizar o Mal encarnado na esquerda e na direita e intensificar as forças sociais voltadas para o Bem. Como deixar os chacais quietos? Escolher entre os convervadores e progressistas não os mais notórios ou canalhas, mas os mais voltados para a criação de soluções. Isso é possível se você for um governante não amarrado às ilusões das suas leituras ideológicas. Vejam Karol Woytila. Ele não foi responsável pela morte de padres progressistas na América Central, como disse uma articulista, assim como não é responsável pelo fim do comunismo. Se o comunismo acabou, o que faz a China Comunista, que tem mais de um bilhão de pessoas e ocupa vasta porção do planeta? E Cuba, os formadores de opinião já invadiram Cuba? O Papa teve a coragem de não ir contra as aparências e pegou fundo. Intensificou uma força social voltada para o Bem, a coragem, outra, o ecumenismo, a tolerância. E não deixou que desmanchassem a doutrina da igreja, arduamente formatada em séculos. É mais humano, é mais eficiente. Vejam o que aconteceu no Brasil: um discurso ideológico intenso contra o neoliberalismo gerou a presidência Lula, que nem é mais neoliberal, é ultra conservador mesmo. E o que é pior: irresponsável, pois o país está solto com a bandidagem imperando em todos os níveis enquanto brinca-se de governar. A direita tentará pelo voto (basta um Collor que já serve). Se não der, nem quero ver o que vai acontecer. A não ser que os restos da grande campanha que elegeu Lula se reúna novamente e enfrente o dragão da maldade. Não vai ser fácil.

RETORNO ? O ranking das melhores cenas do cinema foi enriquecido por José Renato de Faria, que milita como revisor mas é, claro, escritor. Sua melhor aparição de personagem é a de Natalie Wood na cena em Rastros de Ódio, de John Ford: ela aparece assustada dizendo para o titio John Wayne "I remember, I remember" no reencontro dos dois, lembra Zé, que classifica como a mais desconcertante o final de Sem Destino (Easy Rider, deDennis Hopper ). Para Zé Renato, a melhor perseguição de carro é o de O Encurralado, de Spielberg. Diz Zé que "aquele caminhão-tanque, aquela coisa marrom me persegue até hoje".
Pronto, está criada a categoria Final mais Desconcertante.

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