25 de abril de 2005

O ALIMENTO DO ESPÍRITO




Não podemos ser um cemitério de livros, um armário de idéias, um baú de culturas. Precisamos da reflexão, que é o toque do espírito no barro em que nos transformamos. Refletir é o levanta-te e anda do que colocamos embaixo da cama. Ver é pouco, o importante é rever. Ler é insuficiente, o fundamental é reler, repassar na memória o que foi retido e retribuir o pensamento consumido com um novo pensamento, criar por meio da concentração, da conversa, do debate ou do silêncio. É hora de voltar a estudar, descobrir o que pega na teologia, na filosofia, na história, na arqueologia, no cinema, na arte, na literatura, na poesia, no teatro, na televisão, no rádio e na cabeça alheia. Interagir e evitar o momento catatônico em que nos sentimos desabitados, sem merecer o que a vida nos oferece. No deserto, o falcão sabe enxergar a presa que vai lhe salvar. Onde fica a saída? Em você, sala de janelas abertas para o infinito.

CARDÁPIO - No debate com Habermas em 2004 e reproduzido no Mais!, da Folha, deste domingo, Ratzinger fala da razão como instrumento de depuração da fé, que sem esse intercurso pode partir para o fundamentalismo. E a fé como ligação direta com a divindade, o que abre um claro no império da secularização a que estamos condenados. Depois de Marx, a razão ficou muito mais radical e exigente, mas não podemos usar o velho barbudo para justificar nossa pobreza de espírito. Marx é pura transcendência, conseguida arduamente pelo estudo e a reflexão e a lucidez sobre um fenômeno colhido em seu estado primal, o capitalismo velho de guerra. Ignorá-lo e à sua dialética, ou, pior, reduzi-lo à miséria da reflexão e da ação, é um crime contra a inteligência. O império do relativismo de que nos fala Bento XVI não é, imagino, um ataque ao relativismo que a ciência nos proporciona por meio da diversidade de paradigmas, da experiência de povos diferentes, dos enfoques opostos. Tanto é que na sua fala no debate pela Universidade da Baviera, reproduzido em parte na Folha, o cardeal Ratzinger coloca como imposição ética o diálogo com manifestações culturais fora das arcadas da fé e da razão ocidentais. O império do relativismo é outro: é aquele que usa como álibi o alargamento das perspectivas, confundindo com afrouxamento da reflexão. As expressões mais nefastas disso são repetidas a toda hora: normal, diz o marido que precisa gostar da esposa posando nua para uma revista de sacanagens; não tem nenhuma, costumam dizer quando o bicho pega na anti-ética (roubar a namorada do alheio, por exemplo).

EQUADOR - Fantasiaram o ex-presidente equatoriano deposto de militar e o tiraram de lá, junto com a família, rompendo o cerco dos manifestantes que queriam o seu couro. Triste fim do governo Lula, que foi eleito pelo povo para mudar e que acaba sendo mandalhete da Condolleeza Rice. Usa, para seus torpes fins, as Forças Armadas (como faz no Haiti), aumentando assim o acervo de argumentos contra o sistema de eleição popular para presidente. A população está até aqui de políticos corruptos e de governo incompetente. Como pode cada deputado gastar, oficialmente, 90 mil reais por mês? O serviço público deveria ser não remunerado, para espantar as moscas. Os impostos deveriam acabar, com exceção de um por cento sobre qualquer atividade de consumo. Os ministros deveriam ser no máximo seis e não 30 como são atualmente. No primeiro caderno da Folha de domingo, na página três, Marcos Villaça traça um perfil assustador do modo Lula de governar, fundado na preguiça e na inconseqüência. Ministérios imprescindíveis: 1. Indústria e Comércio, 2. Infraestrutura e Transportes, 3. Educação e Cultura, 4. Fazenda, 5. Exterior e 6. Alimentação e Saúde. O resto é papo furado. Ministério de Cidades? Dá um tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário