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22 de abril de 2005
EVOLUCIONISMO, DO DOGMA À IDIOTIA
A rica linhagem científica do evolucionismo, filho dileto do Iluminismo, caiu na vala comum da imbecilidade geral, ampla e irrestrita, graças ao tom dogmático que adquiriu na universidade e na mídia. No imaginário geral, há uma certeza granítica de que cada um de nós é uma pessoa evoluída, e portanto sofisticada, justa, progressista e culta (o resto, claro, não passa de uns idiotas) . Isso deságua na grande modorra dos falsos bons sentimentos que nos assola por meio do pensamento dito politicamente correto (já que sou o máximo, vou civilizar os boçais), contra o qual alguns se insurgem. Um deles é o mestre Moacir Japiassu, que deu seu recado numa revista virtual, num texto que merece um tira-gosto aqui. Outra conseqüência da praga é achar que no passado tudo era uma grande porcaria e que as coisas evoluíram até a beleza onde nos encontramos (esse equívoco tem seu reverso: no passado reside todas as virtudes, o que nos enreda em mais uma mitologia). Cada momento é único e específico e as épocas, mesmo podendo ser comparadas, são incomensuráveis entre si. Para ilustrar essa evidência, coloco um texto de memórias do meu co-autor do Universo Baldio, meu irmão Elo Ortiz Duclós, que comigo está concorrendo ao Prêmio Jabuti deste ano. As memórias do Elo, que inauguram sua caprichada home-page, têm aquela brisa do acontecido agora e já fazem parte da literatura brasileira (no meu romance, tudo o que está itálico é de autoria do Elo, apresentado como "irmão mais velho do Luís" pelo narrador no miolo do livro). Vamos então aos dois textos, de duas pessoas que pertencem à mesma gloriosa geração e que merecem ser lidos pelo talento e a coragem com que dizem o que pensam e sentem.
ULISSES VILLAR - MAJOR - PCB
Elo Duclós
(http://eloduclos.multiply.com/)
Gosto da bravata da última carga de cavalaria a lança, tropa contra tropa, no comando de um lado estava um dândi, Oswaldo Aranha e o comandante geral, em 1923, Flores da Cunha. Iam à frente com lanças apontadas para as tropas do Onório Lemes tropeiro transformado em General revoltoso e guerrilheiro. Herói dos pampas. "Luto por leis que comandem homens e não por homens que comandem leis..."
A cidade não é a mesma, mas vi o Gregório amparando o Getúlio, amparando não, protegendo, se colocava por trás do baixinho, com os braços abertos, em cima de um Ford preto, de capota aberta, passou em frente de casa na Santana. Getúlio de Trajo, gravata, chapéu panamá eu acho e acenando para a multidão. sim meu irmão, multidão naquele deserto. Não dava para chegar na calçada. Vi o cara da janela de casa, que até a calçada tinha uns 4 metros de "jardim".
Vi o Dutra e o Perón e a Evita, inaugurando a ponte, e a praça Argentina. Sabe onde é?
Vi gente ser baleada no centro da cidade. Ouvi as histórias do Tano Rosa, bandido, negão que matou uma família inteira numa estância, a mando, nunca disse de quem. Matou até o papagaio, para não falar. Vi o Coronel Foldoardo Silva, chegar de trem, Deputado, e a sua peonada dando tiro pra cima, pra festejar a chegada de seu chefe. Daí uma historinha da mãe. Dizia que o Flodoardo mandava um telegrama de Porto Alegre, quando voltava a Uruguaiana: Tal dia aí, na estação, façam festa, despesa por minha conta.
Fui na estação com o Pai e a Mãe, recepcionar o Ulisses Villar, devia ser 1948 ou 49 quando chegou de Porto Alegre, quando soltaram os presos comunistas. Era uma temeridade ter ido. Ele era o líder do Partido Comunista em Uruguaiana, Estava jurado de morte. Foi major dos provisórios que avançaram em 1930 e 1932. Mas nosso Pai e Mãe eram amigos, e estavam lá e me levou. Uma grande emoção tomou conta da estação quando a brigada correu para dar guarda ao Ulisses, pensavam que iriam matar ali.
Eles foram amigos de pescaria muitos e muitos anos. Esse cara merecia uma biografia. Gaúcho, de gaúcho mesmo. Comunista, teórico. Um gozador, um sério, um amigaço de pescaria, um dos poucos que dava atenção ao pirralho que ousava ir junto. muito me ensinou de atirar as linhadas, e não enroscar.
Estávamos no Arroio Garupá, perto do Cerro do Jarau, a noite, e o pai levava o Zenith a pilha ou bateria, não sei. E vi o sorriso disfarçado, o brilho no olhar iluminado pela fogueira pouca, depois da janta, os dois gozaram, foi um orgasmo mal disfarçado: Ouvimos que a Rússia tinha lançado o Sputnik. Gol pra eles. Foi uma comemoração silenciosa e cúmplice. Estavam vingados.
ESTUPIDAMENTE CORRETOS
Moacir Japiassu
http://argumento.bigblogger.com.br/
É impossível sabermos hoje quem ou o que inaugurou este circo de horrores. Não importa, todavia, porque a idéia original foi rebordada inúmeras vezes e, na multiplicação do monstruoso festival de besteiras, recebeu os vidrilhos, paetês e miçangas de uma verdadeira plêiade de cretinos espalhada pelo mundo afora. O comportamento estupidamente correto é, na verdade, uma tentativa de desumanizar as pessoas, porque o considerado e bem informado leitor há de concordar com o articulista: existem características mais humanas do que a violência, a falta de respeito, a sacanagem, a traição, a mentira, o crime em todas as suas formas, o racismo deslavado, o preconceito mais arraigado? Pois querem nos "purificar" à força, por intermédio do patrulhamento de que a classe média é useira e vezeira, além de medidas antidemocráticas promovidas por um governo caolho.
Tudo é preconceito neste miserável país que também acredita na "inclusão social" mediante cotas para as "minorias". Não se pode mais rir, nem mesmo de si próprio. Eliminamos de nossa paisagem as mulheres feias, das quais não se pode mais falar; as gordas viraram "fofinhas"; não existem débeis mentais, nem mesmo os que nos governam, porque estes, ao lado de cegos e aleijados, são agora "portadores de necessidades especiais".
Ao mesmo tempo, ninguém dá a mínima para os velhos que também são gordos, carecas e baixinhos. Esta é a dolorosa porém real descrição do articulista, que pretende iniciar um movimento de desagravo à desprezada "categoria"; afinal, não existe, em nenhum anúncio de televisão, aquela jovem e maravilhosa mulher que nos seduz para uma noitada regada à bebida da moda e mais as fantasias sexuais deixadas en passant. Isso é preconceito ou não é? Cadê a cota televisiva para nós da geração Viagra?!?!?!
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