5 de abril de 2005

O SUPER-HERÓI AMERICANO




Não tinha visto ainda o Homem Aranha e confirmei, na Tela Quente da Globo, que nada havia perdido. A história é sempre a mesma. Os poderes da República são incapazes de fazer justiça, que fica a cargo do herói solitário, que usa seus super-poderes para atacar o crime e assim defender a sociedade. É uma convicção funda da cultura americana de que polícia, tribunais, executivo, legislativo, nada resolve, o que vale mesmo é a força do cidadão à margem que na sua ação cria sua segunda chance (décadas disso geraram a ditadura Bush, o texano machão que resolve). A exclusão do herói anônimo acaba quando ele veste um uniforme da própria fantasia e assume uma outra identidade. Com essa vestimenta revela-se para a coletividade como alguém que vem para resolver o que o governo (normalmente representado por algum general corrupto ou um professor vilão) não pode ou não quer resolver. Mas há um paradoxo: o herói não pode dizer, principalmente para a sua namorada (que é onde o bicho da história pega) que ele é o cara. O nerd não consegue fazer sexo nem ser amado. Resolve ser outra pessoa para agarrar a moça, encantada com sua coragem. Mas tem a máscara atrapalhando, tem a fama. O super-herói americano no fundo prefere ficar sozinho ou no máximo com um companheiro para as noites frias (Batman e Robin).

HOJE (ONTEM) - Teve jornal de domingo que não divulgou a morte do papa porque na hora H já estava nas bancas, no dia anterior. É uma sinuca de bico. Vender jornal dominical no sábado é uma falta total de respeito ao leitor. A invenção é do Departamento Comercial, essa entidade imediatista que está acabando com os jornais diários. Costumo dar um chega para lá nos vendedores de anúncios, que adoram vender reportagens ou usa-las como isca fácil para seu faturamento (pois que se lixe o veículo, o importante são os 10 porcento que vai para o bolso dele). As pessoas compram jornais e revistas porque querem ler a produção jornalística, não porque acreditam que ser redondo é ser do bem. O texto jornalístico está cheio de picuinhas e maneirismos porque o amadorismo tomou conta das empresas de comunicação, hoje abraçadas à âncora de ferro que as leva para o fundo, os vendedores de anúncios, que no meio do noticiário colocam um vasto frasco de perfume ou algo parecido. Eles querem substituir as matérias, querem ser mais do que os jornalistas, esse é o problema, isso é o que afasta os leitores. Outra coisa é a incompetência em relação ao tempo. Vejam uma declaração de uma fonte. A pessoa diz HOJE e o repórter, coitado, chicoteado pelos manuais de redação, coloca entre parênteses ONTEM, já que o leitor é uma besta, nem sabe que o cara está se referindo ao dia anterior, apesar de estar dizendo hoje. Fica uma coisa estranha. O repórter, que escreve no dia anterior, quer ser fiel à verdade dos fatos, já que ele é testemunha ocular da História (até quando essa asneira vai vigorar?). Pois bem. Aí então, como ele é um cara sério e verdadeiro, ele coloca ontem entre parênteses, pois o leitor precisa ficar bem informado de que se trata de ontem. Mas o problema é que o repórter coloca esse ontem no DIA ANTERIOR, como se estivesse escrevendo no dia em que o leitor está lendo. Ou seja, é uma ficção só. Prefiro a solução popular: tresontonte. Tresontonte é massa.

RETORNO - Esta edição matinal é mais para comemorar o fato do estouro de visitas que o Diário da Fonte vem recebendo. Não sei a que atribuir o fenômeno. Nunca o DF foi tão lido ou visitado. Coincide com a falta quase completa (com as honrosas exceções de sempre) de comentários. Mas é uma alegria só. Rubens Montardo Junior me convida para visitar a fazenda do Itu, reduto sagrado do trabalhismo, e envia suas notícias da Prefeitura. Paulo Nogueira me estoca me enviando textos contra o Papa (Paulo é assim mesmo, um implicante ótimo). Mais pessoas me pedem o poema Salvação, que alcançou súbita notoriedade depois de 30 anos da SUA publicação. Sua (dele) como inventou o Millor Fernandes no Pasquim e pegou, para infelicidade geral da língua. Na Record, aprendi que jamais a TV deve usar seu ou sua, é sempre dele ou dela. Cruzes! Haja mediocridade.

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