31 de agosto de 2004

OS PARTIDOS INVISÍVEIS

As eleições municipais estão focadas nos candidatos, não nos partidos. É o que chamam de populismo, em que indivíduos inflados pelo marketing político conectam-se ao eleitorado indiferente. Os partidos desmoralizaram-se por várias razões. Uma delas é que enriqueceram ao assumir o poder federal. O PMDB queimou-se na época do Sarney, o PSDB nos dois mandatos de FHC, o PT agora no reinado Lula (notem como ele levanta o dedinho para despejar, didaticamente, suas retóricas). Outra é o de terem se transformado em legendas de aluguel, como o PTB e o PDT. Os demais ou estão no mundo da lua, como o PSTU, ou são meras curiosidades, como o Prona e o PC do B. A falta de partidos é o que caracteriza uma ditadura.

ELEIÇÕES - Voto quente é na Fiesp. Quando eu trabalhava lá, costumava dizer aos jornalistas, muito ácidos em suas críticas à torre, que o presidente da Fiesp tinha sido eleito pelo voto direto, ao contrário do jornalista, que foi nomeado para a função que exerce. O racha que houve nas últimas eleições das entidades da indústria significa que lá existe mais democracia do que transparece no noticiário. Os jornalistas não entendem a Fiesp. Primeiro, acham que ela faz parte da indústria. Não é verdade. A Fiesp é uma federação dentro de uma torre de serviços para a indústria. Lá trabalham jornalistas, sociólogos, economistas, advogados e um ou outro industrial. Há uma grande quantidade dos sem-empresas, que continuam lá por direito adquirido. A Fiesp representa um orçamento anual de quase um bilhão de reais.. Os recursos vem do desconto compulsório das folhas de pagamentos das fábricas, 1,5% para o Sesi e 1% para o Senai. Essa dinheirama é dinheiro público, alocado para uma gestora, que é a Fiesp, e deve ser gasto nos dois sistemas, um educacional e outro profissionalizante. Vi no noticiário que a Fiesp sustenta o Sesi e o Senai, é ao contrário. Cláudio Vaz, que ganhou as eleições no Ciesp (Paulo Skaf, do setor têxtil, ganhou na Federação) fez um saneamento famoso nas contas do Sesi e com isso ganhou força nas entidades. Outro equívoco é achar que a Fiesp apita em reposição salarial de trabalhadores, negociação que está a cargo dos sindicatos patronais e respectivas presidências, jamais a cargo da Fiesp, que pode ser no máximo mediadora de conflitos. Há também muita confusão com as siglas: o atual Ciesp nada tem a ver com o Ciesp criado em 1928. Este, foi transformado em Fiesp nos anos 30. O Ciesp atual foi criado depois, para complementar a Fiesp e é uma espécie de clube de empresas (apenas 7 mil num universo de mais de 80 mil indústrias).

TRÂNSITO - Desta vez, voto em trânsito. É um alívio não ter que enfrentar uma longa fila para decidir entre voto branco, nulo ou algo parecido, só para evitar dar força às velhas figuras carimbadas de sempre. Votei décadas contra o Maluf. Resultado: ele continua aí. Outro resultado: elegi o Quércia, o Fleury e outras nulidades. Agora a campanha da Martha é sustentada pela OAS, segundo a Folha, a construtora baiana de notório passado. Tudo isso para quê? Para comprovar que vivemos numa ditadura e o PT é mesmo, como dizia o Brizola, a direita com punhos de renda. Aqui em Floripa vejo de vez em quando o noticiário político. Sempre começo a tremer. Temos uma capacidade enorme de destacar pessoas que nada tem a ver com as próprias palavras. Há uma desconexão entre o personagem e a fala. São coisas independentes. A linguagem na ditadura é desprovida de sentido. Isso serve para a política, o marketing, a literatura.

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