12 de agosto de 2004

INSURREIÇÃO GERAL NO PAÍS

A Internet produz, e também difunde conteúdos de outras mídias, o que há de mais radical na vida política do Brasil. Reflexo e interação com a vida tridimensional, a revolta toma vastas proporções, pontuada pelo surto de várias violências, falta de respeito às instituições carcomidas (que tratam as pessoas como unidades arrecadadoras de impostos), arrogância individualista (reação espontânea ao Mal e também fruto de treinamento da mídia mal intencionada), ódio nos menores gestos e conformismo medroso por todo o lado. O desafio é saber o que fazer, na prática, na praça, com a rebelião que hoje consome os internautas em milhões de mensagens contra o sistema financeiro e a corrupção política (que formam a ditadura civil). O governo Lula rompeu com o último vínculo da cidadania à esperança de um país melhor. Foi tudo por água abaixo e a corredeira já começou a fazer estrago.

FINANÇAS - A Internet tem sido veículo de insurreição geral. O motivo parece ser um só: o crime organizado que veste a pele das instituições públicas tem colocado a cidadania contra a parede, e esta reage com a mídia das mídias, a rede que por enquanto é nossa aliada. Tenho recebido e-mails os mais diversos sobre a entrega da soberania, as fraudes eletrônicas nas eleições, o ódio às gírias como balada ou galera, num volume gigantesco de denúncias. Um amigo lembra o vínculo da bandidagem da oposição, hoje governo, formatada nos anos 70, quando a opção pela guerrilha jogou o radicalismo da classe média nas mãos da brutalidade ampla e irrestrita do crime. José Dirceu, com seu ex-assessor que negociava diretamente com bicheiro e sua vitória diante das evidências, torna-se um Golbery clonado, mas sem o aparato do galicismo (je m´en vais), talvez porque isso seria confundido com frescura no ambiente onde ele trafega. Os banqueiros que ganham os tubos com o arrocho da população e dos negócios (a cada duas empresas que são criadas, uma vai para o brejo nos primeiros dois anos de vida, constata o Sebrae), seguem à risca o aparato financeiro de toda ditadura brasileira. No tempo do Império, eram os banqueiros donos do escravo como mercadoria (negociado com a elite rural) e o link com as finanças britânicas que garantiam a ditadura monárquica (apesar das barbas tão simpáticas de D. Pedro II e sua visível superioridade em relação a qualquer estadista de hoje no Brasil). Na República Velha, o encilhamento e outras falcatruas mostraram para que servia o regime recém empossado, exatamente manter a ditadura para garantir o lucro abusivo do sistema financeiro. Hoje, nem se fala. Vivemos para pagar (honrar, dizem eles) os juros escorchantes de uma dívida que foi feita à revelia do povo. Sem falar em coisas como o escândalo do Banestado. Falam em emissão ilegal para o Exterior de uma quantia equivalente a 30 bilhões de dólares. Então se transfere o PIB brasileiro para fora e ninguém sabia de nada, só agora?

BRONCO - Ronald Golias enche o espaço total quando risca a tela com um amplo gesto com o braço. É um ator nato, superconvicente, legítimo, que a partir de Totó conseguiu criar um tipo brasileiro ainda resistente. Moacir Franco serve de escada no ótimo Meu Cunhado (que peita o futebol da mesmice global), do SBT. A série foi produzida em anos passados e só agora foi ao ar, obedecendo à estratégia de Gargalhada, o Palhaço Sinistro, que aproveita para encher de excessiva propaganda os intervalos do programa humorístico que ele não queria no ar. Depois, Gargalhada toma conta do SBT com seus execráveis jogos copiados do que há de pior na televisão mundial. Soube que Gargalhada, o Palhaço Sinistro ordenou que Moacir Franco, vestido de mulherzinha na Praça da Alegria, comparecesse ao seu gabinete para renovar o contrato. Foi uma humilhação. Moacir Franco & Convidados deveria ser o programa semanal focado na música com melodia, harmonia, arranjos magníficos e letras (coisas que já não existem mais no baticum horroroso de hoje). Lembro de Totó porque é dele o quadro depois chupado pelo Rolando Lero na Globo. Sócrates morreu? perguntava Totó ao professor, numa cena hilária de um dos seus maravilhosos filmes, que às vezes passa no Eurochannel. No episódio de ontem de Meu Cunhado, em que Moacir e Golias vão para o Pantanal tomar posse de terras, aparece na estrada uma figura baseada em Mazzaroppi. Já vi um filme, O homem que roubou o Sputinik, em que Oscarito fazia um personagem todo ele calcado no caipira de Mazzaroppi (homenagem do gênio de Oscarito ou obediência ao cânone instaurado pelo seu colega). As conexões na comédia sempre me intrigaram e nessa área sou um ensaísta movido pela curiosidade. Já defendi a idéia de que Chaplin pegou emprestado de John Reed, do conto O Capitalista, o personagem que o imortalizou.

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