10 de março de 2016

NA ALDEIA



Nei Duclós 

Somos chamados cedo para a messe
corpo de vidro em duro sacerdócio
fiéis à comunhão, nosso condão aflito
curas de uma aldeia em seus redutos

Distribuímos bênçãos, mansa caridade
ouvimos confissões, na postura exata
sagramos vinho e pão, livres de mácula
lemos as escrituras em volumes pardos

Quando cruzamos a rua entre milagres
o sol nas folhas, o gado lendo a tarde
e nos acenam com mãos de espanto
sabemos perfeita a vocação da ascese

As orações no leito banhado pela lua
buscam a paz de viver sem ser cortado
desde criança os pássaros anunciavam
a rota pelo espinho e não na santidade

O mundo continua com arsenais acesos
mas a paz não está neste quintal fechado
todo dia vemos o clarão do bombardeio
e o ruído da multidão frente ao pecado

Pergunto a Deus onde ficam as respostas
talvez em outra vida, desfecho do destino
o que me cabe é a palavra insubmissa
arte da poesia, voz de um tempo claro


 

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