Nei Duclós
1. A manifestação megamonstro em 22 estados extrapola as
limitações da gavetinhas políticas e ideológicas. A dimensão do evento é
inédita no país.
2. Milhões de pessoas nas ruas não podem ser enquadradas
como golpistas nem fascistas. A diversidade natural abriga tudo que é
tendência, mas majoritariamente a insubordinação é pela ética e a sobrevivência
nacional.
3. O alvo foi o governo e os protagonistas da corrupção:
políticos de vários partidos, empreiteiros, autoridades em cargos importantes
etc.
4. O alvo está fora, portanto, da moldura deste ou daquele
adversário: a indignação é ampla e atinge todos os suspeitos e acusados, de
qualquer posição.
5. Tanto o ex-presidente foi citado nas ruas quanto seus
adversários políticos foram vaiados. A insubordinação não se conforma com
qualquer lado da ideologia.
6; O que está em cheque não é o cargo de presidente, mas o
sistema político todo.
7. O atual sistema é estuário dos equívocos herdados da
ditadura, de uma transição mal costurada numa democracia de cartas marcadas,
com votações suspeitas de fraude e tráfico de influência.
8. O atual sistema começou com um vice eleito em votação
indireta que nem tinha assumido o cargo ainda, uma solução ilegítima encampada
pelos caciques.Urge construir uma solução que não se esvazie no engessamento
atual.
9. Assim como os acusados de corrupção não são de esquerda,
os que tentam usufruir das denúncias não são de direita. Conceitos estão num
nível muito sofisticado diante da barbárie. O que há são oportunistas, que
criminalizaram a política.
10. Enquanto a população se acusa mutuamente de bandido ou
golpista, os maganos usurpam o poder das urnas desviando os recursos da nação,
que arrosta a violência crescente, a crise econômica e a falta de perspectivas.
MUDANÇA RADICAL
O repúdio às falsas lideranças que medraram na estufa da
tirania é o sinal mais explícito da mudança de postura da política brasileira,
que tem agora como protagonista a população mobilizada e em alerta permanente.
Não são os bolsonaros, os felicianos, os alckmins, os aecios, os lulas e fhcs
que podem se aproveitar das indignação nacional para fazer carreira com a
mentalidade tosca do obscurantismo. São as instituições fortalecidas pelo
exercício legal de suas funções que cumprem o papel decisivo da transformação
do Brasil. A isenção e a responsabilidade do Judiciário, da Segurança e, no
futuro, do Legislativo e do Executivo, deverão pautar a nação expropriada de
suas chances de sobrevivência. É questão de vida ou morte. A massa de
brasileiros não cabe em Miami nem na Europa conflagrada. Ou resolvemos aqui ou
vamos perecer.
Depois do 13 de março, em que a monumental multidão
assombrou as telas do país para dizer chega, a burrice bem posta aliada à
roubalheira desenfreada deve encerrar seu capítulo de misérias. Fora da
moldura, o radical evento põe no chinelo as picuinhas ideológicas, o tititi
pseudo filosófico, os articulistas do óbvio, os mentirosos de sempre. Nas ruas,
praças e avenidas a nação peita seu maior desafio e readquire a grandeza
perdida.,
A arenga aparelhada do anacronismo dos pretensos produtores
de pensamento, que tomam conta dos espaços da mídia fazendo água com a
revolução digital, é o sintoma da ultrapassagem que a História faz de quem usa
a própria biografia para compartilhar o butim disputado pelos facínoras. O
discurso em ruínas, que acusa de ideologias desmoralizadas a maioria de imagem
distorcida, não cola mais. Quem se insurge contra o descalabro nacional nem
quer a volta de ditaduras nem compactuar com fascismos de esquerda, centro ou
direita. Há quem queira, mas não são significativos. A diversidade comporta
todo tipo de posição, mas o que conta é a lucidez aliada á coragem da massa
mobilizada.
Descambou a argumentação fajuta que tenta enquadrar a reação
coletiva contra a destruição do país. Desse caldo em fogo e vivo em que
governadores e candidatos a presidentes são escorraçados pela massa com acesso
à informação disseminada em rede, forja-se a nova síntese que não mais
depositará todos os ovos na mesma cesta de indivíduos que acabam tomado rumos
suspeitos. O próprio processo seletivo da contundência da oposição fora da
moldura vai definir quem sobrevive para manter o país em pé. Certamente nenhum
desses coniventes com o vampirismo dos recursos públicos, em que todos os
impostos vão para o bolso dos espertalhões, tanto no sistema “legal” de farta
remuneração quanto pelo crime organizado que avançou em tudo, do petróleo à
merenda escolar.
E não adianta transformar juízes corretos em heróis
nacionais. O heroísmo aqui é da vida de cada um que transcende o arrocho das
rotinas sem esperança para criar soluções acima da besteirada hegemônica. Não
escaparão nem as grandes empresas de comunicação, as megaempreiteiras, as
corporações monopolistas, o sistema de arrocho fiscal e financeiro, o roubo
puro e simples. A punição é mais embaixo. E ela deve permanecer como uma
instituição nacional, permanente, que elimina o veneno para instaurar a
medicina eficaz. O confronto não é entre vermelhos e verde-amarelos. É entre o
massacre do país e a sua salvação.
RETORNO - Imagem desta edição: foto do El País.
RETORNO - Imagem desta edição: foto do El País.
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