Nei Duclós
Se eu estiver mudo é porque todo meu
corpo te escuta
O amor é nosso único sustento.
Comemos o pão que o sonho amassou e o coração fermenta.
Nada tens a perder, a não ser esse
pano que puseste por descuido.
Não podes pegar de volta, já fizeste
a oferta. Tua flor íntima se aprofundou no meu mar.
Na sala sem iluminação, império do
gasto neon, teus olhos eram duas fagulhas da caldeira que empurrava o trem da
paixão para o túnel.
Eras tu, submersa, sereia em meu
socorro. Cansaste do canto e do naufrágio e vieste soprar as velas desta
calmaria.
Depois que você chegou, todas as
vestes do dia se recolheram. Ficou sozinha no palco que me ilumina.
Na sala sem iluminação, império do
gasto neon, teus olhos eram duas fagulhas da caldeira que empurrava o trem da
paixão para o túnel.
O tempo em que vivemos é como um
clube noturno. Dançamos juntos e depois vamos nos retirando para o fundo de
algum abismo.
Não durma tanto. Terás tempo, quando
chegar a eternidade.
Vou te tirar do circuito. Te levar
para um tempo que não tenha ruinas.
Corra que a noite já vem. Teu lado
oculto ganhará brilho logo que eu inaugure um verso com minha roupa escura.
Preferes a mim, que duro além do
agarro. Que trago estrelas em vez de acender um cigarro.
Levaste o verso para um canto. Lá
fizeste um pedido. Ele atendeu, o tratante.
Solidão não por falta de afeto. Mas
porque só tu valia cruzar o deserto.
Cruzei a espada na maçã madura. Era
feita de ar, mas caiu inteira.
Quando cheguei, nada tinha no
alforge. Mas viste na minha miséria as mil e uma noites.
Tenho o que você precisa: uma
palavra de amor e a minha vida.
Saudade do momento em que não nos
contivemos? Quando verteu a felicidade? Continuamos afiados, basta dizer que
não suportas ficar longe demais do que te encanta.
Não use a ressaca para esquecer o que
me disse. Arroste. Está dito.
Teus ombros não suportam o mundo,
insuportável.
Lua cheia é moeda corrente,
depositada no horizonte. Único tesouro no céu sem nuvens.
Quando te vi, o poema saltou de
improviso. Tinha enlouquecido.
Durma abraçada ao verso que te
dedico. Sou eu que respiro quando te falta ar.
Amanheces de luz, perfeição absoluta.
Cubra-me do amor que fantasio.
Na noite alta, ouço teu beijo no meu verso.
RETORNO – Imagem desta edição:
Barbara Stanwick, por George Hurrell.