Nei Duclós
Não alcanço a Lua. Guardo sua beleza no bolso. É seu novo
lado oculto.
Todos temos um segredo. O meu é você, que nem desconfia.
Deixo para depois, esqueço. Mas me pegas quando de repente,
numa esquina vences.
Por que eu danço toda vez que te vejo?
Gostou? perguntei no milésimo verso. Só? respondeu pela
milésima vez.
Queria salvar o mundo. Hoje me contento em levantar cedo e
tomar café com o esplendor do amanhecer. Talvez seja esse meu curativo para
tantos ferimentos.
Os anjos escrevem por mim. Só dito o que me sopra o Destino
quando te vejo na praça numa distância mínima.
Bonita tua linha do tempo. Cheia de admiradores meliantes.
Vou mandar invadir o quanto antes.
Qual será tua reação se eu ficar feliz? ela disse. Vou bater
no pilantra, ele falou.
Tristes teus poemas, disse ela. É como fotonovela antiga,
ele falou. São para te fazer chorar no meu ombro.
Estou pleno do amor que me pediste para guardar. Não é
preciso esforço. Ele me alimenta enquanto espero que te lembres.
Falo por trilhas o que sinto como avenida.
A poesia diz o que já foi dito. Reconhecemos sua voz quando
dentro de nós ela dá um grito
Não podemos nos dizer o que o corpo fantasia. Fica esse
calor prestes a virar incêndio.
Te escrevi quando nascias. És minha poesia de batismo.
Puseste linda no teu nome. Nem precisava, corpo celeste.
Vou te soltar quando houver vento. Escondo nas cobertas e
fico ao relento.
A melhor Lua é a que se sente mais bonita.
Entendi, armadilha.
RETORNO - Imagem desta edição:
Joan Crawford, por George Hurrell.