Nei Duclós
Agora venta, vela de sonho. Me leva
onde possa ver-te.
Sobrevivemos ao naufrágio. Guarde os
sinais em busca de socorro. Quero ter certeza que estamos perdidos.
Aos poucos os navios voltam. Só
tu,amor intenso, partiu para sempre.
Não posso mostrar os ferimentos.
Mascarei tudo com cicatrizes brandas. Não descosture, que sangra.
Mas é teu destino, distraída. Pisas
como se o amor fosse inquebrável.
O problema é que abusas, cardume de
espantos. Se ao menos tivesses piedade, não haveria tanto sofrimento.
Estive seco todo esse tempo. Bastou
um pingo da tua onda para virar tsunami.
Fugimos do sonho mas ele nos
alcança. Exaustos, nos depositamos no fundo do coração em chamas.
Cansei de dizer eu te amo. Agora
fecho para balanço. Faça do meu silêncio o sentimento impregnado até a borda.
Março é quando o clima fecha o
quarto, você puxa a coberta e sente falta de um céu sem nuvens no teto
Não podemos nos dizer o que o corpo
fantasia. Fica esse calor prestes a virar incêndio.
Me colocaste na escola do amor.
Depois vieram as férias.
Se você viveu um momento, ele continua lá, doendo. Nada
apaga as três dimensões do pensamento.
Fui dormir mas não houve descanso.
Sonhavas comigo, paixão mutante.
O frio chegou antes. Nosso corpo nem
tinha ainda permanecido ao sol o suficiente. Agora estamos confinados novamente
no calor que nos sustenta.
Escolhes meu poema na feira do
universo. Colocas na bolsa e somes na escuridão do cosmo.
Colho a palavra escassa nas ruínas
do oásis. Nenhum diamante. Apenas um baque surdo do teu corpo na areia. Cais de
uma nuvem que não existe.
Asa quebrada, coração partido. Deixa
que eu colo com minha decisão de não ir embora.
RETORNO - Imagem desta edição: A Fair Wind, obra de Winslow Homer, 1873-76.