Nei Duclós
São folhas secas o que te falo para ninguém saber. Amasse
cada uma delas e cheire o que guardam antes de te perder.
Perdeste o trem, espere a próxima aurora. Talvez tenhas
sorte de embarcar junto com o poema miserável que te adora.
Chegaste bem na hora de me dizer adeus.
Escapas com a secura pelo poema dentro da bolsa. No meio da
viagem tiras para ver se ainda está lá, pedindo água.
Lavei o rosto com tua água fria. Depois vieste me beijar,
contraditória.
Fique comigo antes que te sequestrem. Compartilhe o doce
caminhar na praia. Lá onde sopra o vento do mar, irmão do acaso.
Tão cedo, disse o deserto. Queres que eu espere teu poder de
estrago? perguntou o poeta.
O dia não faz sentido antes que acordes. Só depois, quando
chutas as cobertas é que o sol fica digno de seu trajeto.
Acordei junto com as asas que ruflam sobre teu imaginário
sono. Pois estás desperta e finges não ser bela.
Chamam de poesia para que fique numa redoma, numa gaveta,
num nicho, numa estante, num evento, num canto de página, num anúncio. Mas tem
outro nome. Coração, como bem sabes.
Flor é mistério. De onde vem o desenho que deslumbra os ares
e atrai nosso olhar, pássaro de uma vida precária?
Não aposte no abandono. Estou contigo mesmo que caminhes
entre urzes. Ou em outra palavra qualquer que meta medo.
O rosto que mostramos com brilho de Lua cheia sabe onde fica
nossa face oculta?
Vou contratá-lo para redigir as
leis, disse o soberano. Compareça aqui todo domingo. É quando posso conversar
com o espírito publico que dita o bom senso.
Mudou a Lua. Ficou Cheia na nossa
alma vazia.
Fim de domingo, debut do outono no
ano que recomeça.
Tentei mas estavas ocupada. Volto na
próxima vida
RETORNO – Imagem desta edição: Audrey
Hepburn.