20 de junho de 2006

O SOBRINHO DE OSWALDO ARANHA




Tudo indica que Carlos Castaneda, o autor best-seller de livros sobre a saga do xamã indígena Juan Mattus, é brasileiro, nasceu em Juqueri (atual Franco da Rocha), interior de São Paulo, em 1935, e é filho não reconhecido de um dos irmãos de Oswaldo Aranha. O nome completo é Carlos César Aranha Castaneda. Sua mãe era conhecida da poderosa família e é possível que trabalhasse numa das suas fazendas ou tinha propriedade na vizinhança. As raízes dos Aranha estão em São Paulo, mas uma parte dela emigrou para o Rio Grande do Sul (Oswaldo Aranha nasceu no Alegrete em 1894). Uma pesquisa que Ida Duclós fez há mais de cinco anos levava para essa conclusão, mas faltavam mais evidências. Agora há indícios fortes, em sites dos seguidores do escritor, desta nova versão, que contraria frontalmente a revista Time, que se confundiu completamente numa célebre matéria de capa. O autor da matéria achou que um homônimo de Cajamarca, Peru, nascido em 1925, era o próprio. O autor seguiu a risca o conselho do mestre, de apagar sua vida pessoal, como ele explica na entrevista a revista Uno Mismo, Chile and Argentina, Fevereiro de 1997, feita Daniel Trujillo Rivas.

VIAGENS - E daí? E daí que essa noticia bomba coloca Carlos Castaneda como o enigmático sobrinho levado pelo tio poderoso para fora do país, primeiro para Buenos Aires e depois para os Estados Unidos, quando Oswaldo Aranha foi embaixador lá. Pode-se especular que a família não podia falar sobre o assunto, pela posição que ocupava na política. As pistas levam a Luis Aranha, revolucionário dos anos 20 e um dos articuladores da revolução de 1930. Todas as lembranças de Castaneda sobre o avô materno que o criou (já que a mãe morreu muito cedo), inclusive a famosa cena do falcão albino "rápido como a luz" são desse interior paulista e nada tem a ver com o mundo hispânico. Como nos Estados Unidos tudo abaixo do Rio Grande é México ou suas imitações, tanto faz ser da América Portuguesa ou Espanhola. Aliás, ainda hoje acham que somos hispânicos. Isso muda completamente a leitura que podemos fazer de todas as reminiscências do escritor, que revolucionou a antropologia ao abraçar totalmente o mundo que começou a estudar a partir de 1960, quando tinha 25 anos (e não 35, como disse a Time, idade incomum para um jovem pós-graduando, como notou Miguel Duclós, que descobriu as provas, só agora disponíveis, nas suas navegações na internet).

ESTIGMA - Numa cena de reencontro do pai, Castaneda diz para suas meias-irmãs que gostaria de ter sido criado naquela família. Essa dor do abandono paterno pode estar na fonte da necessidade de apagar a história pessoal. Pois quem foi negado ao nascer leva esse estigma por toda vida. Sem raízes, escondido pela família poderosa, quase clandestino no país onde foi estudar, Castaneda assim mesmo confidenciava para um colega de quarto na universidade que seu tio seria presidente do Brasil e tinha sido capa da Time. Oswaldo Aranha era o nome mais cotado para enfrentar Jânio Quadros em 1960, mas as articulações levaram para o Marechal Lott, com os resultados desastrosos já conhecidos. Se Oswaldo Aranha tivesse sido candidato, certamente seria eleito e não teríamos embarcada nessa tragédia política da qual ainda não conseguimos nos libertar. Todas essas revelações sobre Carlos Castaneda explica porque ele estava aberto para entender e decidiu se entregar a uma cultura desconhecida, já que não tinha sido incluído no mundo oficial. Era triplamente excluído: brasileiro confundido com hispânico, filho ilegítimo de família rica e depois antropólogo não reconhecido pela academia.

CLOSER - Depois desta notícia-bomba, vamos fazer uma breve referência a Closer, o filme de Mike Nichols de 2004 e que indiretamente me diz respeito, pois Martha Medeiros, num texto hiper-difundido na internet, incluiu um verso meu ("Nenhuma pessoa é lugar de repouso", do meu poema Salvação) e o usou como se eu concordasse com o rodízio de casais reportado no filme. Nada mais longe da realidade. Meu verso aponta para o movimento interno, pessoal, de busca incessante do alimento para o amor, e não é um passaporte para a disponibilidade total e mesquinha de hoje. Foi um verso escrito nos anos 60 e fazia parte da luta por uma vida mais sincera e real, sem a monotonia das famílias que viviam na falsidade e na clausura social. Era um chamado à libertação, na procura de algo mais verdadeiro e jamais um estímulo à vontade geral de se desvencilhar dos relacionamentos, como sugere o texto de Martha Medeiros. Fiquei assim com fama de poeta que nega o relacionamento duradouro. Vamos parar com isso. Ou como dizia Vicente Matheus: me incluam fora disso!

RETORNO - O post acima foi levemente reescrito para colocar algumas coisas no lugar. Trata-se de uma segunda edição, melhorada, desta notícia sobre a identidade de Castaneda. A primeira edição foi feita no calor da hora e modificada no final do dia.