18 de setembro de 2014

CÂNTARO LÍRICO



Nei Duclós

Melhor não adivinhar minha fantasia
óbvia refeição na distração do dia
suja de nuvens e um crepúsculo limpo
frutas pendentes em miserável surto

Melhor não saber como de fato vivo
gerando intervalos na realidade bruta
as frestas por onde flui o compromisso
de um acervo sem fundo, cântaro lírico

Melhor ignorar o andar da carruagem
essa viagem que faço no ritmo do rumo
o que os anjos escutam quando desafogo
letra para copistas de espessos espíritos

Eu é que providencio o verso inexistente
que se desdobra em ventania nas planícies
de planetas distantes, anos luz de gritos
labirintos estranhos, céus de ideias fixas

Sei que me escutam, majestades tristes
servas do destino de planejar convictas
o tempo que virá e poderão ser livres
do ar que lhes falta, minha própria sílaba

Melhor escapar do bizarro e primitivo
voltar-se às estações, ao tango frio da lua
ao barro que desdenha o próximo paraíso
deixar como está, perfil que não se agita

Não perca o motivo de repartir convívios
com o que não assombra, vida já prevista
nem tente acampar na plantação de sondas
que buscam a perdição onde se acha o crime

RETORNO - Imagem: obra de Vik Muniz.

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