10 de setembro de 2014

COR TARDIA



Nei Duclós

Os versos parecem bons, quando recém colhidos.
Depois sofrem com a idade. Exibem cicatrizes,
falta de ritmo. Perdem a embocadura
ou somos nós que acordamos para os seus ruídos?

Sofro se recito. Me parecem órfãos do sopro
que lhes deu vida. Escuto os ecos de vagidos
que punham em dúvida a certeza do ofício.
Quem sabe tinham razão, os maus espíritos?

Visito paisagens antigas em busca de resposta
elas encerram o tempo em ânforas de vidro
perfumes que se esfumam, gestos repetidos

Mas é a cor que persiste, submissa ao sonho,
ao confisco da mão firme que rabisca o futuro
no delírio do destino, acima da vil literatura


RETORNO -  Imagem: obra de Augustus Walcott

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