Nei Duclós
Melhor não adivinhar minha fantasia
óbvia refeição na distração do dia
suja de nuvens e um crepúsculo limpo
frutas pendentes em miserável surto
Melhor não saber como de fato vivo
gerando intervalos na realidade bruta
as frestas por onde flui o compromisso
de um acervo sem fundo, cântaro lírico
Melhor ignorar o andar da carruagem
essa viagem que faço no ritmo do rumo
o que os anjos escutam quando desafogo
letra para copistas de espessos espíritos
Eu é que providencio o verso inexistente
que se desdobra em ventania nas planícies
de planetas distantes, anos luz de gritos
labirintos estranhos, céus de ideias fixas
Sei que me escutam, majestades tristes
servas do destino de planejar convictas
o tempo que virá e poderão ser livres
do ar que lhes falta, minha própria sílaba
Melhor escapar do bizarro e primitivo
voltar-se às estações, ao tango frio da lua
ao barro que desdenha o próximo paraíso
deixar como está, perfil que não se agita
Não perca o motivo de repartir convívios
com o que não assombra, vida já prevista
nem tente acampar na plantação de sondas
que buscam a perdição onde se acha o crime
RETORNO - Imagem: obra de Vik Muniz.
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