Nei Duclós
Se houvesse um encontro,
não saberíamos ao certo o que fazer dos pássaros que nos rodeiam.
Tens alguém que finges
esconder. Mas dá para ver quando teus olhos passeiam.
Olhas habitada o que te
faz inteira. Aguardas, parada na fronteira. A qualquer hora passará o trem para
o sentimento.
Todos os dias deixo um
verso na neblina. Quando não encontras, ele brilha.
Lua e Vênus ao mesmo
tempo derrubam as últimas barreiras. Desencadeia-se a avalanche de estrelas.
Quando me aproximo, sou
reprovado. Se desapareço, passo.
Cubra-se do sereno. A Lua
espia teus ombros e sente ciúme.
Inventamos a distância
para ficarmos livres do amor. Assim ficamos infelizes olhando para o vazio
achando que é liberdade.
Não me tente com a beleza
que te sobra. Jogue para os pombos, nos feriados.
Duvido que alguém saiba o
que tua palavra crava. A não ser eu, quando te amava.
Não te visito mais. Você
diz que não está.
Fiz o balanço. Estamos
pendentes. Marque o momento. Que tenha Lua.
De vez em quando o amor
aperta. Puxa pelo pulso. Deixe-se levar antes do susto.
Vênus cercando a Lua.
Favorecendo o circuito. Levando azul onde brilha a Nova.
É o rosto de um sorriso
com uma pinta de luz no queixo
Me tens em tua armadilha.
Agora descambe, flor da planície.
Nasci para esse ofício.
Te fazer perdida entre a vontade e o pulo.
Cheguei de viagem com
fantasias. Rasgo as persianas do teu exílio.
Tocaias o sonho sem
desconfiar que te enxergo. Longo território sem acenos.
Não posso dizer direto em
teu rosto, encoberto por pensamentos à mercê do dia. Digo então por bilhetes
que se desmancham.
Um verso com gana
enquanto dispersas teu corpo por imagens sem dono.
Ventania em teu ombro,
exposta em praia deserta. Nada por perto a não ser meus olhos.
Recitas para o teatro
vazio. Só eu bato palmas, dono de todos os ingressos.
Ao adicionar, te
somatizo?
Quietinha porque está
armando uma. Daqui a pouco o redemoinho desperta. Mulher fica sempre alerta.
Vou acender os lampiões
da rua. Quando a Lua se vai, os suspiros querem companhia.
Virei especialista. Posso
dar um curso de luar na cortina.
Não se assuste, estou de
saída. Podes me substituir, mas teu coração me espia.
RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe.