1 de setembro de 2013

CHÃO DE AR ESCASSO



Nei Duclós

Cruzei a palavra no arame da poesia. Ela faz que se atira, mas se mantém firme, graças à sombrinha

Aprendemos o que os outros já sabem. Somos dicionários de mortas linguagem. Criar é um novo passo, chão de ar escasso.

Somos sábios quando encontramos as palavras que formam o núcleo de uma linguagem própria.

Eternidade é desconhecer o dia da morte

Damos aula para os pássaros. Eles comentam nas árvores.

Hoje é dia do Senhor, disse o anjo. Então saia e feche a porta, disse Deus.

O que dizem de nós é a nossa biografia.Tua versão é não autorizada.

Várias pessoas acabaram de visualizar seu perfil. Fique de frente.

Dormimos sentados na aula do Destino. Uma lufada de ar varre nosso sono. Alguém ronca por nós atrás de biombos.

Poesia é uma feira livre. Você vai em busca de verdades e só encontra miosótis.

Tudo pode ser reduzido a no máximo cinco linhas. Telegrafe para o futuro. Quem sabe terá sorte de ser lido.

Vinho bom não dá ressaca. O que dá ressaca é falta de dinheiro.

O que dizem de nós é a nossa biografia.Tua versão é não autorizada. Se proibissem o livro, o mercado esquentaria. Volumes em fundo falso de caminhões. Viciados trêmulos comprando de traficantes ex-bibliotecários

O importante não é acumular, nem gastar. É saber passar, como os filetes de água vertidos de fontes em lugares altos. A alegria é participar da viagem que se faz em direção ao mar.

Ninguém lembra nada no dia seguinte. Assim mesmo, não repita. Diga outra coisa, para entrar também na bela galeria do esquecimento
 
As baleias francas não mentem sobre o próprio peso.

Falo sozinho no inverno que não termina. As ruas já sabem: a conversa vai longe, entre enxurradas.


RETORNO - Imagem desta edição: obra de Roberto_Weigand.