Nei Duclós
Cruzei a palavra no arame da poesia. Ela faz que se atira,
mas se mantém firme, graças à sombrinha
Aprendemos o que os outros já sabem. Somos dicionários de
mortas linguagem. Criar é um novo passo, chão de ar escasso.
Somos sábios quando encontramos as palavras que formam o
núcleo de uma linguagem própria.
Eternidade
é desconhecer o dia da morte
Damos aula para os pássaros. Eles
comentam nas árvores.
Hoje é dia do Senhor, disse o anjo. Então saia e feche a
porta, disse Deus.
O que dizem de nós é a nossa biografia.Tua versão é não
autorizada.
Várias pessoas acabaram de visualizar seu perfil. Fique de
frente.
Dormimos sentados na aula do Destino. Uma lufada de ar varre
nosso sono. Alguém ronca por nós atrás de biombos.
Poesia é uma feira livre. Você vai em busca de verdades e só
encontra miosótis.
Tudo pode ser reduzido a no máximo cinco linhas. Telegrafe
para o futuro. Quem sabe terá sorte de ser lido.
Vinho bom não dá ressaca. O que dá ressaca é falta de
dinheiro.
O que dizem de nós é a nossa biografia.Tua versão é não
autorizada. Se proibissem o livro, o mercado
esquentaria. Volumes em fundo falso de caminhões.
Viciados trêmulos comprando de traficantes
ex-bibliotecários
O importante não é acumular, nem
gastar. É saber passar, como os filetes de água vertidos de fontes em lugares
altos. A alegria é participar da viagem que se faz em direção ao mar.
Ninguém
lembra nada no dia seguinte. Assim mesmo, não repita. Diga outra coisa, para
entrar também na bela galeria do esquecimento
As baleias francas não mentem sobre
o próprio peso.
Falo sozinho no inverno que não
termina. As ruas já sabem: a conversa vai longe, entre enxurradas.
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Roberto_Weigand.