Nei Duclós
Não temos futuro. Abra o presente.
Cuidas de ti, joia do gênero. Pena que só penso em estragos.
Saímos correndo para o compromisso. Levamos junto o verso
ainda vivo. O que colhemos na noite infinita.
Não faço outra coisa senão te ver, luz da manhã.
É cedo ainda para sonhar? Vamos deixar que o dia rebente de
dor? Melhor prevenir amor na viagem da aurora para o entardecer.
Não desconfie quando respondo. Não tenho outra intenção do
que levar um tombo quando chegarmos a um acordo.
Impossível evitar que machuque. A diferença tem seus
truques. Desmaie depois da luta livre
Não és bonita, mas uma fera. A beleza te devora e em ti se
transforma.
Não estavas mais quando cheguei perto. Moro no mundo
paralelo. Migro para o inverno.
Compões,delicada, a estrutura do voo. Te concentras, asas de
um novo tempo.
Perdi o que ia dizer, escorregou para o fundo. Um dia
retorna em forma de susto.
Não temos futuro. Abra o presente.
Pingue a gota escarlate em teu aceno. Vejo de longe e não me
perco.
O que é distante um dia fica junto. Prepare-se, pingente de
glória.
Senti que vinhas vindo, maré de espumas.
Não se esconda, respiração sem fôlego. Venha tomar ar em
Vênus, que brinda a Crescente.
Teu corpo não te pertence, mas ao olhar que te deseja.
Liberte-se do jugo alheio e me queira, promessa de primavera.
Desci o olhar ao tornozelo achando que não estavas vendo.
Mas lá tinhas uma fita de ouro, magnífica.
Não sei o que me deu quando falei contigo. Acho que foi o
veludo do teu perfume inaudito.
Pus na gaveta o que não pode ser dito. Será encontrado na
serragem que sobrou da moradia, onde vivemos uma tarde de domingo.
Não sei o que é poema e o que é tua voz sincera. Talvez se
misturem e não mais se reconheçam.
Fora isso, está limpo. Basta esquecer teu adeus.
Não queria admirar teus joelhos, seria excessivo, mas não
tem jeito. Rótula de desejos, chave de pernas.