12 de outubro de 2012

INTENSA



Nei Duclós
 

És intensa porque tudo em ti conflui para o mesmo ponto. Mas não profunda, pois o mel mergulha e a toda hora vem à tona.

Sei que virás em definitivo. Já treino o olhar assassino para o entorno quando te colocar no colo.

Não acho que te mereça. Isso me impede de chegar perto. Mas não de jogar pesado em quem se aproxima de ti, beleza mortal

Brigamos tanto porque sem querer viramos amantes e ainda estamos com a cabeça no tempo de antes, quando vivíamos sós como duas bestas falantes.

Você dói. E não tem cura.

Não tenho mais medo. Você disse sim.

Tão bonita que choramos de remorso ao conhecê-la pelo desperdício de tempo em que ficamos distantes.

Existe a força da obra, teu corpo que me comanda e o sopro imortal da chama que nos consome sem pausa

Foi inútil o tempo dispendido. E o que se descortina está no frio. A não ser que habites a fantasia gerada no convite.

Tua graça sobra e se esgarça, se esparrama até a praça onde teu circo me chama.

Sombras imitam bichos, aproveitam a cobertura fria para nos assustar no escuro. Fauna que apavora a ventania.

O que imagino não é falsidade, é a vontade que tenho de ti, beldade.

Cansaste de esperar no sofá da realeza. Precisei despachar com diplomatas de outros tempos. Agora voltei para um despertar à noite.

Sumiste no calor da festa. Mas na varanda o sonho te esperava

Avisei que iria te pegar de surpresa. Quem manda duvidar da ameaça.

Agora chega de conversa. Deite-se, palavra, sobre a mesa.

Estás ocupada sendo você mesma. Esqueça um pouco e me dê um aceno.

O que devo fazer para ser parte do teu dia? Ou devo permanecer em banho maria?

O vento está mexendo na fonte do arrepio.

Não finja que me abandona quando eu fingir que nem ligo. Antes eu tinha jogo agora já não consigo. Admito que te amo vamos pular o conflito.

Saleiro de vidro estilhaçado no piso era a lágrima seca do coração partido. Colei cada pedacinho e batizei de açucareiro.

Toda essa boniteza mela o poema. Exageras, tremenda.


RETORNO – Imagem desta edição: Anouk Aimeé.