Nei Duclós
Nunca briguei com a língua portuguesa
sempre vivemos em perfeita harmonia
ela me ama, é recíproco
Às vezes um mal entendido, um trocadilho
uma forçada de barra no estrangeirismo
ilhas de ironia
Mas no geral é essa solene catedral sonora
a língua dos pais e dos pássaros da terra
herança de jóias
Palavras que fazem parte da carne
sílabas que gritam por nós, letras de cores
falamos em arco-íris
É o que temos de sagrado, voz que toma forma
do que somos e sentimos, de dentro e de fora
poesia puxa a corda
Nunca quis outro mundo a não ser o que me deram
pela rudeza do braço e a curva das velas
somos assim todos prosa
Não façam pouco do nosso exercício eterno
essa pujança de luz que é o acervo da obra
língua portuguesa, interna
aurora
RETORNO - Imagem desta edição: Amanhecer, obra de José Ricardo.